Mulheres na assistência à saúde: superação de desafios marca dia a dia das profissionais
12 de março de 2024 - 09:32 #assistência a saúde #HRN #Mulheres da Saúde #superação de desafios #UPA
Assessoria de Comunicação do HRN e das UPAs
Texto e fotos: Teresa Fernandes e Márcia Catunda
Arte gráfica: Iza Machado
Empoderadas e cheias de sonhos, as mulheres da saúde são notáveis nas suas contribuições para os serviços prestados à população cearense. Dando sequência à série de reportagens “Mulheres da Saúde: cuidado que transforma, histórias que inspiram”, apresentamos a história de duas mulheres que precisaram superar desafios pessoais para atuar na área que escolheram. As duas profissionais tiveram a vida transformada por motivos completamente diferentes, mas a garra e o amor pela medicina são pontos em comum entre elas.
Formada há 24 anos, a infectologista do Hospital Regional Norte (HRN), unidade da Secretaria da Saúde (Sesa) em Sobral, Patrícia Rosa, é uma apaixonada pela profissão. “Eu me sinto muito realizada na infectologia. Na clínica médica e na infectologia a atuação não é específica, mas com o corpo como um todo”, comenta. Mineira de nascimento, ela é formada pela Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM) e infectologista pela Residência Médica em Doenças Infecciosas e Parasitárias do Hospital-escola da Universidade Federal do Triângulo Mineiro.
Rosa diariamente se desafia pessoal e profissionalmente. Além de atuar na coordenação médica do Serviço de Controle de Infecção Hospitalar (SCIH) do HRN, é professora universitária. A profissional adquiriu em 2014 a síndrome de Guillain Barré, um distúrbio autoimune que ataca parte do sistema nervoso e, por isso, tem dificuldades para andar. Para visitar as enfermarias, ela utiliza uma cadeira de rodas. “Hoje consigo executar bem minhas funções com tranquilidade, mas se eu tivesse essa condição de mobilidade há 20 anos, talvez não tivesse sido possível nem fazer faculdade”, relata. Ela lembra que na época da graduação não havia rampas na maioria dos prédios públicos. O HRN é totalmente adaptado para cadeirantes.
Junto às equipes de assistência, a infectologista Patrícia Rosa discute o uso de antimicrobianos e condutas de infectologia
A médica atua por meio de interconsultas e visitas aos pacientes do eixo adulto e pediátrico (emergência, Unidades de Terapia Intensiva – UTIs e enfermarias). Junto às equipes de assistência, a infectologista discute o uso de antimicrobianos e condutas de infectologia, além de participar de visitas à beira leito com a equipe multiprofissional.
Entre os principais casos atendidos pela infectologia do HRN estão pacientes vivendo com HIV/aids, hepatite C, tuberculose e outras infecções. “A atenção básica faz o acompanhamento desses pacientes, mas em quadros mais graves eles podem precisar internar”, explica.
O maior desafio, segundo Rosa, são as demandas sociais. “Temos uma população pobre e com demandas sociais e necessidades nutricionais específicas. Mesmo que tenhamos tecnologia de ponta com medicações e exames, os problemas sociais são um desafio para a continuidade do tratamento”, conta. A maior alegria, segundo a médica, é ver um paciente ir de alta para casa. “É uma alegria muito grande ver a evolução do paciente, alguns que chegam muito graves e conseguem se recuperar e sair bem”, diz.
“Desejo que cada vez mais mulheres possam ocupar espaços sem a necessidade de seguir padrões”, diz médica trans da UPA Canindezinho
Poder mostrar-se como se é de verdade pode ser algo simples para algumas pessoas, mas, para a médica Liz Miranda, esse fato representa uma grande conquista, já que nem sempre foi assim. Com 25 anos de idade, ela trabalha na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Canindezinho, equipamento da Rede Sesa. Além de jovem, é uma mulher transsexual e que gosta de tatuagens, características incomuns na profissão que escolheu. “Sei que não tenho o padrão que geralmente as pessoas imaginam e esperam de uma médica, mas aprendi a lidar com opiniões em forma de retaliação e posso dizer que a melhor resposta é um trabalho bem-feito e manter o respeito com quem for”, comenta.
Na UPA, ela revela que todos conhecem seu perfil e que se sente acolhida no ambiente de trabalho. Entretanto, ela lembra que isso não ocorreu no ambiente familiar quando decidiu pela mudança de gênero, há dois anos. Apesar das dores emocionais que teve que lidar, o momento ainda assim foi marcante porque envolveu “descobertas e redescobertas e uma sensação indescritível de liberdade”. Liz faz aniversário no dia 11 de março, mas considera o dia 11 de setembro, data em que fez a cirurgia de redesignação sexual, como um “renascimento” e “um novo aniversário”.
A profissional tem como hobby fazer aulas de canto. “Gosto de trabalhar a melodia, entonação e a respiração com foco na voz feminina”, diz. Além disso, já fez trabalhos como modelo. Na infância, a matéria preferida era Ciências, o que a atraiu para a área da saúde. A decisão pela carreira na Medicina veio pela chance de interagir com outras pessoas e ajudar ao próximo de forma prática.
Liz tem 25 anos e atua como médica na UPA Canindezinho
Quando tinha 16 anos, a futura médica leu um artigo na Internet sobre disforia de gênero e então passou a compreender melhor o sentimento que permanecia dentro de si e a necessidade de transformação. “Eu não tinha amigos gays, lésbicas, bissexuais e nem transsexuais para conversar. Então, conversei com uma amiga de infância para explicar o que estava sentindo e ela me deu todo o apoio”, revela, com gratidão.
E é esse respeito, acolhimento e apoio que ela deseja que prevaleçam para as mulheres em todos os dias do ano. “Muitas vezes as mulheres são julgadas pela competência apenas por não serem do sexo oposto. Eu desejo, acima de tudo, respeito. E que cada vez mais as mulheres possam ocupar os mais diversos espaços, especialmente as mulheres trans. E que tenhamos forças para lutar”, finaliza.
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