Infectologista esclarece mitos e estigmas do HIV

29 de janeiro de 2020 - 13:23 # # # # # #

Assessoria de Comunicação do HSJ
Repórter/foto:
Diana Vasconcelos


O ano de 1984 foi marcado pelo início da epidemia de HIV/aids no Brasil. Muito se especulou sobre o que era a doença e como ocorria a infecção. Apesar de avanços em pesquisas, tratamento e acesso a informações, ainda há muito preconceito e estigma em torno do tema.

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Atuando há mais de 28 anos na assistência a pacientes vivendo com HIV, o médico infectologista do Hospital São José de Doenças Infecciosas (HSJ), Érico Arruda, afirma que as gerações mais jovens não têm consciência do que foi a epidemia – o que acarreta na falta de prevenção e no consequente aumento das taxas de infecção. 

Como age o vírus HIV?

Ao entrar no organismo, o vírus HIV promove a diminuição das defesas. Isso porque ele tem uma predileção por se multiplicar em algumas células que são apropriadas para organizar a defesa do corpo. Dentro dessas células, o vírus as desorganiza e o organismo da pessoa infectada enfraquece progressivamente, fazendo com que adoeça em situações que não adoeceriam se não estivesse com suas defesas comprometidas. Em seu estágio mais avançado, desenvolverá aids. Vale ressaltar que nem toda pessoa vivendo com HIV desenvolve a aids.

O vírus pode ser transmitido pelo compartilhamento de itens como roupas e talheres?

Mito. O HIV é transmitido por relação sexual, transfusão sanguínea, compartilhamento de seringas (contaminadas), durante a amamentação ou o parto (transmissão vertical). A principal forma de transmissão do vírus, vale ressaltar, é por relação sexual, responsável por 90% dos casos do mundo inteiro.Talheres, copos, vaso sanitário, roupas, nada disso transmite. Nem mesmo o beijo.

A camisinha é a única forma de prevenção ao HIV?

Mito. A camisinha não é a única forma de prevenção, mas é uma das mais importantes. Outras possibilidades são o uso das profilaxias pré-exposição (PrEP) e pós-exposição (PEP), ambas disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS). Testagem constante e vacinação em dia contra outras doenças também são essenciais para uma prevenção combinada.

Mesmo contaminado, o exame só revelará o vírus após algum tempo?

Verdade. Isso é o que chamamos de janela sorológica. O tempo entre a exposição e a infecção, e o tempo em que o exame se torna positivo, que é decorrente da capacidade do organismo de montar uma resposta imunológica e produzir anticorpos detectáveis no teste. Esse tempo tem se estreitado. Antes, tínhamos até três meses de janela sorológica, agora são  22 dias. Os testes atuais são muito mais sensíveis a ponto de poder detectar mais precocemente a infecção.

O ideal é fazer o teste 22 dias depois da relação de risco. Mas, se tiver consciência da relação de risco rapidamente, é possível fazer uso de PEP em até 72h após a atividade de risco. Claro que, quanto mais precoce o seu início, maior a chance de efetividade. O ideal é a utilização dentro das primeiras 2h.

Alguém com HIV sempre transmite o vírus em uma relação sexual?

Mito. Pode haver, sim, relação sem transmissão. O HIV não tem uma transmissibilidade muito acentuada. Mas, infelizmente, as pessoas se expõem com muita frequência e ainda há muitos casos de pessoas infectadas em uma única relação sexual com seu parceiro. Então, a despeito da quantidade de exposições, é preciso se prevenir sempre.

A pessoa vivendo com HIV é obrigada a contar sobre a doença ao parceiro ou parceira?

Esse é um contexto muito complexo. Não existe nenhuma legislação que obrigue as pessoas a informarem seus familiares ou parceiros da sua condição de saúde. Contudo, do ponto de vista ético e médico, uma vez que alguém tenha o diagnóstico, pelo risco que há para sua parceria, ele é incentivado a revelar o quadro. Inclusive, o médico pode interferir, conforme o código de ética, que diz que o sigilo deve ser quebrado em raras as situações, e uma delas é haver riscos para terceiros.

É possível contrair HIV na manicure ou fazendo tatuagem?

Verdade. Já aconteceu, mas a chance é muito pequena. O vírus HIV não resiste à temperatura ambiente; ele morre rapidamente fora das células sanguíneas humanas. Contudo, alguns casos ocorreram em situações nas quais uma pessoa utilizou um alicate de unha, se feriu, e em seguida alguém usou o utensilio. Hoje se tem mais controle, produtos esterilizados, descartáveis. O que se recomenda, e isso tem mais impacto para as hepatites, é que cada pessoa tenha seu próprio utensilio. No caso da tatuagem, o cuidado é com as agulhas.

Pessoas com HIV podem ter filhos?

Sim. Mas é uma outra situação complexa. As pessoas infectadas podem ter filhos e, a depender de como está estabelecida a infecção na parceria, se é do homem, se é da mulher ou de ambos. Dependendo de como está, terá um desenho diferente na abordagem. Algumas situações vão pedir um maior suporte tecnológico, como a fertilização in vitro.