Mulheres da Saúde: os desafios da gestão e o sonho de fortalecer a humanização no SUS
8 de março de 2024 - 08:30 #8 de março #Dia da Mulher #mulheres #Mulheres na Gestão #Mulheres no SUS
Assessoria de Comunicação da Sesa, Hias e HGF
Texto: Levi Aguiar (Ascom/Sesa), Ligia Freitas Duarte (Ascom/Hias) e Suzana Mont'alverne (Ascom/HGF)
Fotos: Diego Sombra (Ascom/Sesa) , Felipe Martins (Ascom/HGF) e Thamires Oliveira (Ascom/Sesa)
Artes gráficas: Iza Machado
A representação das mulheres na sociedade, historicamente, é marcada pelo cuidado e pela luta por direitos igualitários. Moldando o presente e inspirando o futuro, o Dia da Mulher, celebrado em 8 de março, remete à força, à coragem e à resiliência feminina em todo o mundo. E também à vontade de quebrar preconceitos e ocupar espaços.
No espírito da celebração da data, a Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) lança, neste mês de março, a série de reportagens “Mulheres da Saúde: cuidado que transforma, histórias que inspiram”. O objetivo é reconhecer o trabalho notável de mulheres na Saúde do Estado e destacar as contribuições para os serviços prestados à população.
À frente da gestão pública, as mulheres inspiram mudanças e quebram barreiras. Tânia Mara Coelho é exemplo disso. A médica infectologista é a segunda mulher a ocupar o cargo de secretária da Saúde do Ceará e a primeira vice-presidente do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) Região Nordeste. Com mais mulheres na diretoria do Conselho, a composição reflete a representatividade da gestão.
A gestora reconhece que precisou vencer obstáculos em prol da realização de um sonho: contribuir para a Saúde do estado. “Como mulher, enfrentei e ainda enfrento diversos desafios. Já avançamos em muitas frentes, mas ainda é preciso lutar diariamente para que nossos direitos sejam respeitados. Por isso, como secretária da Saúde, tenho o compromisso de aprimorar os serviços da rede estadual e fortalecer as políticas voltadas à saúde da população feminina”, diz.
Os desafios da gestão durante a pandemia
Tânia Mara Coelho esteve à frente da gestão do Hospital São José de Doenças Infecciosas durante pandemia de covid-19 (Foto: Diego Sombra)
Em 2020, durante a pandemia de covid-19, salvar vidas era a grande missão da mulher que insistiu em ser médica e gestora em uma sociedade construída sob uma cultura que favorece os homens em detrimento das mulheres. Na direção do Hospital São José, ela deparou-se com o que seria, até então, o maior desafio da sua carreira.
A experiência exigiu que a médica encarasse o medo do contágio, as incertezas sobre o vírus, a exaustão física e emocional. Ao lado do corpo de gestores da unidade, Tânia Mara adaptou a estrutura do Hospital para receber centenas de pessoas diagnosticadas com uma doença fatal e desconhecida.
“Minha atuação será sempre direcionada para o fortalecimento e humanização do nosso Sistema Único de Saúde (SUS). É o legado que quero deixar para as pessoas. Além de garantir o acesso aos serviços de saúde, nós precisamos que os usuários sejam bem tratados, independentemente de quem ou de onde estejam”, destaca.
Diretora-geral do HGF, Ivelise Brasil desempenhou papel crucial na implantação do transplante de fígado no Estado
À frente do Hospital Geral de Fortaleza (HGF) desde 2022, a médica-cirurgiã Ivelise Regina Canito Brasil tem em sua trajetória uma gama de contribuições acadêmicas e de valorização à saúde pública, principalmente no serviço de transplantes de fígado.
O convite da Sesa para assumir a gerência do hospital foi aceito de imediato. “Como eu já era médica no HGF, responsável pela equipe de transplantes no hospital, foi fácil e animador aceitar, mesmo sabendo a complexidade dos desafios que viriam”, relata. Para a gestora, a missão de amenizar a dor dos pacientes precisa ser maior que o medo das dificuldades enfrentadas no dia a dia.
“Trabalhar com saúde pública é ter a oportunidade de servir todos os dias e melhorar, mesmo que minimamente, a vida de alguém. Quanto mais eu trabalho, mais tenho sorte. É essa a minha visão, só assim ganhamos prestígio para dar condições para que o hospital funcione com segurança para os profissionais e pacientes”, compartilha.
Transplante de fígado
Foi durante a residência, cursada na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP), vinculada à Universidade de São Paulo (USP), que o interesse pelo transplante de fígado surgiu e se tornou uma meta profissional. Até então, o Ceará não realizava o procedimento. Junto a uma equipe da Hospital Universitário Walter Cantídio (HUWC), Ivelise iniciou a implantação do serviço. “Montamos um ambulatório e formamos uma equipe para credenciar oficialmente a metodologia no Estado”, pontua a médica, que trabalhou no projeto de forma voluntária.
No primeiro ano do serviço, em 2003, foram realizados oito transplantes de fígado pelo HUWC. “Todos os procedimentos foram um sucesso e a partir daí o Ceará só evoluiu”, destaca a profissional.
Para a gestora do HGF, a missão de amenizar a dor dos pacientes precisa ser maior que o medo das dificuldades enfrentadas no dia a dia (Foto: Felipe Martins)
Com o serviço da instituição federal já estabelecido, a médica manifestou interesse em montar o serviço de transplante de pâncreas no HGF. “Em 2008, passei a integrar a equipe de transplante renal do hospital e começamos a preparar as equipes de fígado e pâncreas”, relembra. Durante um ano, os profissionais trabalharam no desenvolvimento dos protocolos.
A ação coincidiu com o fim da reforma de ampliação realizada no HGF, em 2009. “Era o momento certo, além da equipe tínhamos também um salto gigantesco na infraestrutura”, destaca a cirurgiã.
“Fui ao Ministério da Saúde pessoalmente. Lá contei minha história, de onde vinha, o que era o HGF, a equipe que queria fazer o serviço funcionar, e em quinze dias fomos auditados pelo Sistema Nacional de Transplantes (SNT)”, relembra. A instituição foi aprovada, mas o relatório demorou a sair. Novamente, Ivelise dirigiu-se à instituição federal. O credenciamento foi divulgado em agosto e, em dezembro de 2009, foi feito o primeiro transplante de fígado e pâncreas no HGF.
Desde o início do serviço, foram realizados 648 transplantes de fígado e 56 de pâncreas.
Mulheres na linha de frente da Saúde: a jornada inspiradora de Fábia Linhares
Com uma trajetória de mais de 30 anos como servidora da Saúde do Ceará, a médica pediatra Fábia Maria de Holanda Linhares Feitosa desempenha atualmente a função de diretora-geral do Hospital Infantil Albert Sabin, unidade da Sesa especializada no cuidado infantil. Durante essas três décadas, Fábia testemunhou e participou ativamente de diversos avanços na saúde do Estado.
Da criação do Hospital-Dia, trabalho integrado e multifuncional das diversas áreas de saúde, até tornar o equipamento referência em doenças raras do Ceará foram alguns momentos vivenciados pela profissional. Mas ela destaca como o desafio mais significativo, a criação de um setor especializado no tratamento de crianças com doenças crônicas. “Enfrentamos a banalização da doença, com pessoas colocando as crianças em segundo plano. Eu abracei essa causa com determinação, e hoje somos um exemplo de cuidado integral, acompanhando a família durante um ano de luto. Isso é único no mundo”, enfatiza com orgulho.
A médica pediatra que está a frente do Hospital Infantil Albert Sabin já atua há 30 anos no estado (Foto: Thamires Oliveira)
O caminho na medicina sempre foi um sonho para Fábia, impulsionado pelo desejo de cuidar do próximo. No entanto, ela reconhece que enfrentou muitos obstáculos, especialmente no início de sua carreira. “As mulheres sempre enfrentam mais dificuldades e preconceitos. No início, a maioria dos gestores era composta por homens, e nós, mulheres, tínhamos que conciliar diversas responsabilidades além do trabalho profissional. Naquela época, era ainda mais desafiador, pois tínhamos que mostrar o valor da mulher para termos oportunidades iguais.”, recorda Fábia.
Apesar dos desafios, ela ressalta que teve que encarar tudo com muita coragem e pôde também contar com apoio do marido, que atua na área da saúde e contribuiu para o desenvolvimento dela. “Mesmo assim, no começo, tive que deixar um pouco de lado minha família e priorizar meu trabalho. Eu tinha que provar, com minhas atitudes, ações e resultados que eu podia ser melhor e eu atribuo isso a essa coisa de a mulher saber fazer várias coisas ao mesmo tempo e dar o seu melhor, sem medo de errar, sem medo de chorar. E, conquistando meu espaço, comecei a abrir espaços para outras mulheres, trazendo elas comigo para cargos com mais destaque, baseada na capacidade de cada uma”, destaca.
Para quem deseja seguir na área da saúde, Fábia enfatiza a importância da coragem e da resiliência. “Acredite na Saúde Pública, acredite no SUS, pois ele vale a pena e não deixa a desejar em cuidados a nenhuma unidade privada”, conclui.
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