Centro de Convivência Antônio Diogo completa 95 anos com programação que destaca a história da entidade

10 de agosto de 2023 - 15:35 # # # #

Assessoria de Comunicação da Sesa
Texto: Kelly Garcia
Fotos: Carlos Alberto Jr.

Centro de Convivência Antônio Diogo, em Redenção, foi fundado em 1928 

O Centro de Convivência Antônio Diogo (CCAD), mais antigo equipamento vinculado à Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), completou 95 anos com programação ressaltando a atuação e a história da entidade. A comemoração ocorreu na quarta-feira (9), no distrito de Antônio Diogo, em Redenção. Na ocasião, a secretária da Saúde do Ceará, Tânia Mara Coelho, recebeu o título de Cidadã Redencionista, homenagem da Câmara dos Vereadores de Redenção, em agradecimento ao seu trabalho à frente da pasta. O infectologista e assessor especial da Superintendência Regional de Fortaleza (SRFOR) da Sesa, Lino Alexandre, representou a secretária no evento. “Terei o maior prazer de levar para ela esse título porque sei do compromisso e responsabilidade da secretária com a Saúde Pública do Ceará. É uma homenagem muito justa”, destaca.

Os convidados também visitaram o Memorial Leprosaria Canafístula, equipamento cultural criado com o objetivo de resgatar a memória de quase um século de tratamento de hanseníase no Ceará. O espaço possui sete salas, com exposições de documentos históricos, registros de jornais e objetos que foram guardados ao longo do tempo. As salas também abrigam produções como fotografias, obras de arte e histórias daqueles que passaram por ali. 

O infectologista e assessor especial da Superintendência Regional de Fortaleza (SRFOR) da Sesa, Lino Alexandre, representou a secretária  da Saúde do Ceará, Tânia Coelho, no evento

Segundo o diretor-geral do CCAD, Assis Guedes, a intenção do memorial é proporcionar aos pacientes residentes a oportunidade de mostrar o que eles queriam que a sociedade soubesse sobre a vida deles, por meio de produções artísticas, culturais e outras formas de expressão. Outro objetivo é sensibilizar os profissionais da área da Saúde para a hanseníase, ainda na graduação. “Esse espaço também está à disposição para visitação para formação acadêmica, como uma maneira de conscientizar os profissionais sobre a importância do diagnóstico precoce da doença e, dessa forma, trazer um olhar mais aguçado para a hanseníase. Essas visitas podem ser agendadas através do site da Escola de Saúde Pública do Ceará, no link das Práticas de Regulação”, disse. Além disso, o CCAD também recebe o público em geral, com agendamento via e-mail e através do telefone. 

De acordo com Assis Guedes, 140 pessoas ainda residem no Centro de Convivência, todos curados da hanseníase. “Temos apenas 17 pessoas do tempo em que a internação era compulsória e a maioria é composta por familiares que moram nas casas. A internação foi compulsória até 1986”, explica.

Segundo o diretor-geral do CCAD, Assis Guedes, a intenção do memorial é proporcionar aos pacientes residentes uma forma de mostrar sua história e modo de vida

Segundo o infectologista e assessor especial da SRFOR da Sesa, os pacientes ainda são estigmatizados por causa da doença. “O estigma é algo que a sociedade precisa sempre rebater, assim como o medo e preconceito da população. Com um diagnóstico precoce, é possível não ter sequelas, permanecer com o convívio familiar e preservar o trabalho”, destaca.

História de força

Francisca Varela, hoje com 82 anos, começou a apresentar sintomas da hanseníase no início da adolescência, aos 13. Na época, morava em Várzea Alegre, cidade do Cariri cearense. Alguns sintomas, como o crescimento das orelhas, nódulos pelo corpo e a mudança na cor da pele, começaram a chamar a atenção dos vizinhos e ela se isolou em casa, para evitar os comentários. Toda a juventude passou reclusa, não teve oportunidade de estudar, nem de ter os divertimentos das moças da idade dela, como conversar com os amigos e participar de comemorações.

Francisca Varela, hoje com 82 anos, começou a apresentar sintomas da hanseníase no início da adolescência, aos 13 e chegou ao CCAD aos 27 anos

Aos 27 anos, a doença foi confirmada e ela foi internada no Centro de Convivência Antônio Diogo, levada pelo irmão. “A viagem foi de trem, era chamado o Expresso de Canafístula. Quando eu cheguei, chorei muito. Me senti sozinha e assustada. Mas, aos poucos, fui me acostumando e criei laços profundos com as pessoas daqui”.

Com o tempo, Francisca Varela aprendeu noções de enfermaria e passou a ajudar no hospital. Logo, surgiu o amor pelo enfermeiro-chefe, com quem veio a se casar. “Não pudemos ter filhos e, infelizmente, ele faleceu alguns anos depois. Mas adotei três meninas que chegaram aqui para se tratar. São as minhas filhas do coração”, disse.

Mesmo com o afastamento da família de origem, ela conseguiu retomar o contato e hoje sempre conversa com a irmã e os sobrinhos que moram em São Paulo. “Tenho duas famílias: a que formei aqui e a minha de sangue. Deus é meu guia e a minha fortaleza. Se eu vim para cá, era porque tinha um propósito: o de ajudar mais pessoas”, diz. 

Serviço:

Visita ao Memorial Leprosaria Canafístula (Centro de Convivência Antônio Diogo – CCAD)

Agendamentos para a população em geral: (85)3332-2673 / 3332-9483 ou pelo e-mail hospitalantoniodiogo@gmail.com

Para estudantes e profissionais da saúde:

Agendamentos via link