Juntas somos mais fortes: “Espero que a gente deixe uma história de empoderamento”, diz Vaudelice Mota, secretária executiva da Sesa
13 de março de 2023 - 17:06 ##MêsdaMulherSesa #Ceará #entrevista #saúde #Sepos #Vaudelice Mota
Assessoria de Comunicação da Sesa
Texto e fotos: Evelyn Barreto
“Eu tive que enfrentar a vida muito cedo, fui destemida e nunca deixei de fazer nada por ser mulher”, lembra a titular da Secretaria Executiva de Políticas de Saúde (Sepos)
A ancestralidade feminina norteou o percurso pessoal e profissional de Maria Vaudelice Mota. A médica sanitarista, hoje titular da Secretaria Executiva de Políticas de Saúde da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), vem de uma família de mulheres fortes e tem colocado essa determinação no desafio de compor a gestão estadual.
O local em que cresceu talvez já previsse o caminhar da sua vida. Nascida no distrito de Sucesso, na cidade de Tamboril, sertão de Crateús, Vaudelice sempre teve objetivos claros e sabia o que queria profissionalmente. Desde o início da faculdade, já procurou estabelecer metas e visualizar suas possibilidades, pois o que lhe motivava era a “justiça social” da sua área de atuação.
Na segunda entrevista da série Juntas somos mais fortes, conversamos com a doutora em Saúde Pública que hoje reforça o time das secretárias executivas chefiado pela titular da Sesa, Tânia Mara Coelho.
Confira a entrevista:
Qual mulher é sua maior referência e por qual motivo?
Vaudelice Mota: Eu sou de uma família de mulheres fortes. A minha avó paterna era destemida e mandava no marido, nas filhas, mesmo casadas. A minha mãe não era mandona, mas tinha valores muito firmes. Eu sempre quis estudar muito, mas não era fácil. A gente tinha de ir para a cidade vizinha para conseguir ir à escola, mas sempre gostei muito de estudar. Eu lia muito, por exemplo. A minha ancestralidade é toda de mulheres fortes. Eu tive que enfrentar a vida muito cedo, fui destemida e nunca deixei de fazer nada por ser mulher.
Você acha que herdou essa herança?
V.M: Acho que sim. Só pode ser uma coisa de ancestralidade. Tenho dez irmãos homens e cinco mulheres, e nós é que comandamos.
Para você, o que significa “ser responsável pela sua carreira” e como ser mulher atravessa essa questão?
V.M: Eu sempre tive objetivos determinados. Queria estudar e fazer Medicina. Mesmo sem ter muita clareza quanto à especialidade, sabia que queria ser médica para ajudar as pessoas. Vim fazer faculdade em Fortaleza e logo que me formei, fui trabalhar no Centro de Saúde, e foi um período muito rico. Consegui diagnosticar que, à época, havia vários vícios no serviço. Não tinha ninguém para atender, os médicos saíam mais cedo, por exemplo.
Era difícil fazer tudo funcionar. Fui estudar para entender por qual motivo isso acontecia. Fiz especialização em Planejamento pela Fiocruz [Fundação Oswaldo Cruz] e quando voltei do doutorado, fui ver se aprendi o suficiente para retornar ao Centro de Saúde e reajustar os fluxos.
É meio clichê dizer que quer ser médica para ajudar as pessoas, mas minha escolha foi sobre isso. Aprendi muito com meu irmão mais velho, que me ensinou a ter uma visão de justiça social, a entender qual era o papel do Estado, como que as coisas deveriam funcionar. Fui para a pós-graduação, coordenei muitos cursos de graduação, gestão e saúde da família, orientei muitas teses de mestrado. Foi uma trajetória de bastante aprendizado e compartilhamento de conquistas.
Eu gosto muito de estar na gestão porque eu me orgulho de ver as coisas acontecerem, de contribuir para o resultado. Eu estava aposentada cuidando das minhas plantinhas e recebi o convite da Tânia. Nem titubeei e vim. A gente tem condição de trazer um diferencial para a Saúde do Estado com essa nova gestão.
“Eu gosto muito de estar na gestão porque eu me orgulho de ver as coisas acontecerem, de contribuir para o resultado.”
Em sua trajetória profissional, estar aliada a outras mulheres fortaleceu seu percurso? Como?
V.M: Na minha casa, sempre fomos mulheres contestadoras. Era comum debater de igual pra igual. Quando viemos estudar em Fortaleza, tivemos muito a compreensão de que não havia por que deixar de fazer as coisas por ser mulher. Eu reconheço que é muito difícil. Em alguns momentos, eu tive essa dificuldade, como quando eu coordenava quatro homens. Foi complicado porque é inconsciente, mesmo a gente tendo uma boa relação de amizade, muitas vezes, eu chamava atenção para o machismo.
Eu estava vendo que os números de violência contra as mulheres cresceram em 2022. Todo tipo de violência. Na luta, a mulher começou a trabalhar em condições péssimas, depois de muita persistência, passamos a ter direito ao repouso obrigatório, depois foi outra luta para garantir as férias, votar, casar e separar.
Elas estão se empoderando e esse aumento das denúncias é sinal de que elas estão enfrentando. Os homens são acostumados a mandar e as mulheres, cada dia mais, estão mostrando força e competência para desempenhar qualquer tipo de função e combater isso.
A Sesa tem, em sua maioria, um corpo de colaboradores composto por mulheres, especialmente à frente de cargos de gestão. Que representatividade você almeja disseminar para elas?
V.M: Temos a compreensão de que somos protagonistas nesse momento. A Sesa teve uma mulher secretária há 30 anos e agora temos não só uma mulher na chefia, como várias outras compondo o time. Temos que estar atentas para que não nos intimidem com qualquer ato de misoginia. Quando tivemos uma presidenta que foi afastada fundamentalmente por essa questão, por exemplo. Se fosse homem, não teria acontecido. As mulheres quando começam a ocupar um lugar de destaque, a tendência é serem ridicularizadas.
Hoje temos diferentes legislações que fortalecem e protegem os direitos das mulheres. Em relação à saúde, que demandas precisamos estar atentas e sensíveis para garantir esse direitos?
V.M: Temos que garantir os direitos da mulher onde elas estiverem. Sendo mãe tem que haver uma boa assistência pré-natal, creche, escola, para que ela possa desenvolver uma profissão, realizar-se, ter direito de ser mulher e fazer o que acha que deve fazer. Isso tem que ser garantido e respeitado. A mulher negra, indígena, trans e cigana.
Depois de quase 30 anos, temos novamente uma mulher à frente da Secretaria da Saúde e mais três executivas. Como você avalia esse protagonismo e a soma de esforços?
V.M: O projeto é sermos protagonistas. As mulheres têm mais sensibilidade para ver todas essas questões. Nada sobre nós sem nós. Estamos mostrando como as coisas têm de ser feitas. Espero que a gente deixe uma história de empoderamento, para a quebra do machismo estrutural, para o fortalecimento da luta, para sermos respeitadas e termos nosso direito garantido. Vamos trabalhar para isso.
Você pensa em deixar um legado na sua gestão? Qual?
V.M: Eu sempre trabalhei com saúde e acreditei que a atenção primária é o pilar que deve se firmar no sistema. Eu quero, junto com a secretária Tânia, que já declarou isso, fortalecer a atenção primária. Se eu conseguir fazer com que ela exerça o papel que precisa nos municípios, eu vou sair daqui bastante realizada e satisfeita.