Artigo: Muito além das leis de mercado

3 de fevereiro de 2009 - 13:09

A presença do médico na grande maioria dos municípios até bem pouco tempo era uma vez por semana. Dentista mais  raro ainda. Com a chegada do Sistema Único de Saúde há 20 anos e do Programa Saúde da Família há 15 anos muita coisa mudou. A prova dos bons resultados do maior acesso aos  profissionais e aos serviços de saúde está na melhoria dos indicadores. Basta lembrar que em  1994, no Ceará, a Taxa de Mortalidade Infantil  era de 80 para mil nascidos vivos. Está bem  menor: 16,1 em 2007. Mas tudo pode ser melhor na garantia da universalidade, integralidade e  equidade do SUS, apesar das leis de mercado,  regulado pela oferta e procura e não pelas  necessidades da maioria da população.

Problema que não começa no ingresso ao  mercado de trabalho. Na formação, lá nos  tempos de faculdade, os profissionais, em  função das tais leis de mercado, não são muito estimulados a trabalharem na Atenção Básica. Diferente do Canadá, onde 52% dos médicos atuam na Saúde da Família. Não adianta querer se iludir e achar que de uma hora para outra os profissionais vão fazer opção por cidades pequenas, distantes da Capital, por um ou outro atrativo.  Não basta só elevar salários e promover estabilidade.

Defendo a criação do profissional  de carreira de Estado. É também importante  oferecer melhor estrutura de acolhimento e trabalho nas Unidades Básicas de Saúde. Ainda temos unidades funcionando em instalações  improvisadas, longe de qualquer política de  humanização, que acolhem mal os usuários do  SUS e desestimulam os trabalhadores.

Melhores salários, estabilidade, novas  instalações das Unidades Básicas de Saúde  não bastam para reduzir as dificuldades em  atrair profissionais de saúde para o Interior.  Sem política de educação permanente, não há  como avançar muito. Todos precisam se sentir  atualizados, sem parar no tempo, integrados  com o que está acontecendo de novo nos  grandes centros. Cursos de especialização são fundamentais.

Na atenção especializada, não tem outro jeito se não construir e equipar, pra valer,  hospitais e unidades com capacidade de  atendimento compatível com a Capital. Qual  é o médico, especialista em neonatalogia, que faz opção por um município ou região que não dispõe de UTI nem das mínimas  condições de trabalho? Nenhum. Compromete o desempenho. Eticamente, nem se fala.  Pensando na ampliação e qualificação da  assistência nas micro e regiões do Ceará, o Governo do Estado iniciou o programa de construção de 16 Centros de Especialidades  Odontológicas, 20 policlínicas e dois hospitais regionais. Tudo isso, com humanização, fará a diferença que a história mostrará.

João Ananias Vasconcelos Neto
Secretário da Saúde do Estado do Ceará