Leishmaniose tegumentar: saiba o que é e como prevenir a doença

5 de abril de 2024 - 14:27 # #

Assessoria de Comunicação da Sesa
Texto:Kelly Garcia
Fotos:Shutterstock
Arte gráfica:Juliel Veras

Transmitida pelo mosquito palha, a leishmaniose tegumentar caracteriza-se por feridas na pele

Com o desmatamento, cada vez mais, doenças que antes se restringiam a determinadas áreas, têm expandido seu território de transmissão. Esse é o caso, por exemplo, da leishmaniose tegumentar, também conhecida como “ferida brava”, antes mais presente em áreas serranas. Transmitida pelo mosquito palha, a leishmaniose tegumentar caracteriza-se por feridas na pele, nas partes descobertas do corpo.

De acordo com o boletim epidemiológico mais recente da doença, divulgado em 2023, de janeiro de 2018 a dezembro de 2022, foram diagnosticados 2.437 casos, com uma média de 487 casos ao ano, sendo registrados 644 casos em 2021 e 431 em 2022. No estado do Ceará, quase todos os casos foram da forma clínica cutânea (96,5%), sendo as maiores proporções detectadas nas Regiões Norte (97,7%) e Fortaleza (97,1%). A proporção da forma mucosa foi de apenas 3,5% no estado, sendo mais comumente detectada na região do Cariri (7,3%). 

A articuladora do Grupo Técnico de Zoonoses da Sesa, Kellyn Cavalcante, explica que as condições ambientais favorecem a proliferação do inseto transmissor. “O cultivo de plantas frutíferas perto de casa, assim como a presença de galinheiros, chiqueiros de porcos, estábulos e anexos para a armazenagem das colheitas, cria um ambiente que favorece a circulação de mamíferos silvestres, prováveis reservatórios da doença. Isso porque perto do domicílio há grande disponibilidade de alimentos. Estar próximo de áreas desmatadas e de riachos também é fator de risco”, diz.

As lesões da leishmaniose tegumentar apresentam aspecto de úlceras, com bordas elevadas e fundo granuloso, geralmente indolores, nas áreas descobertas. Também podem aparecer lesões nas mucosas, mais frequentes no nariz, boca e garganta. “O tratamento é oferecido na Atenção Primária. Por isso, quem estiver com esses sintomas deve procurar o Posto de Saúde mais próximo”, diz. 

Para prevenir a doença, a população deve adotar medidas de proteção individual e estar atenta à higienização dos ambientes externos das casas. “As pessoas devem usar repelente, principalmente no entardecer e no período da noite. Outra medida importante é manter os ambientes, especialmente nos quintais e ao redor das casas, sempre limpos e secos”, diz.

Leishmanioses tegumentar e visceral: diferenças e semelhanças

A leishmaniose é uma doença infecciosa, porém não contagiosa, causada por protozoários do gênero Leishmania, que se multiplicam no interior das células que fazem parte do sistema de defesa. A transmissão da leishmaniose ocorre pela picada de insetos flebotomíneos fêmeas infectados. Há dois tipos de leishmaniose: a tegumentar ou “ferida brava” e a visceral, também conhecida como “calazar”. 

Enquanto a forma tegumentar caracteriza-se por feridas na pele que se localizam com maior frequência nas partes descobertas do corpo, a visceral atinge vários órgãos internos, principalmente o fígado, o baço e a medula óssea. 

“No homem, o tempo em que os sintomas começam a aparecer desde a infecção, é de, em média, dois a três meses, podendo apresentar períodos mais curtos, de duas semanas, e mais longos, de dois anos”, esclarece Kellyn Cavalcante.

As fontes de infecção das leishmanioses são, principalmente, os animais silvestres e os insetos. No entanto, o hospedeiro também pode ser o cão doméstico. “Algumas espécies de animais silvestres como roedores (capivaras), marsupiais (cassacos), edentados (tatus, pebas) e canídeos silvestres (raposas) já foram registrados como hospedeiros e possíveis reservatórios naturais do parasita”, pontua a articuladora do Grupo Técnico das Leishmanioses da Célula de Vigilância Entomológica e Controle de Vetores (Cevet) da Sesa, Ana Paula Gomes

O acúmulo de matéria orgânica perto das casas também facilita a formação de criadouros para o mosquito. “A presença de lixo, fezes de animais domésticos, restos de comida e a forma inadequada de descarte das águas de uso doméstico, que mantêm os solos úmidos, ajudam na formação de criadouros do inseto”, destaca a articuladora do Grupo Técnico de Zoonoses da Sesa, Kellyn Cavalcante.

O acúmulo de matéria orgânica perto das casas também facilita a formação de criadouros para o mosquito

Capacitações para o controle e manejo da doença

Durante o ano, profissionais da assistência (médicos e enfermeiros) têm realizado eventos de capacitação sobre a doença. Em março, a Saúde do Ceará, por meio da Secretaria Executiva de Vigilância em Saúde (Sevig), abordou o tema “Vigilância, tratamento e manejo clínico da leishmaniose tegumentar”, no município de Itapajé. O próximo treinamento será no período de 15 a 19 de abril, sobre “Vigilância e controle de reservatórios e vetores das leishmanioses”, voltado para os municípios da Coordenadoria da Área Descentralizada de Caucaia.

Em fevereiro, também foi realizado um treinamento sobre “Vigilância e controle de reservatórios e vetores das leishmanioses” no mesmo município, mas com participação dos municípios que compõem a ADS: Tejuçuoca, São Luís do Curu, Pentecoste, General Sampaio e Apuiarés. 

O público-alvo são os agentes de combate às endemias e os técnicos de laboratório de entomologia das Superintendências. O treinamento em serviço tem carga horária de 40h, conciliando teoria e prática.