Dezembro Vermelho: evolução do tratamento proporciona qualidade de vida a pacientes que vivem com HIV e impede transmissão do vírus

1 de dezembro de 2023 - 09:50 # # # #

Assessoria de Comunicação do HSJ
Texto e fotos: Bárbara Danthéias
Artes gráficas: Iza Machado

Luciano, 59 anos, recebeu diagnóstico positivo para HIV em 1992. Desde então, é acompanhado pelos especialistas do Hospital São José (HSJ), unidade da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) referência no tratamento do vírus da imunodeficiência humana. Em mais de 30 anos vivendo com HIV, o aposentado pôde presenciar várias evoluções no tratamento.

“No começo, tinha uma droga tipo uma pastilha. Só o cheiro e o sabor dela eram insuportáveis, eu não conseguia tomar. E hoje não sinto nada, não tem sabor, não dá náusea. E tomando o remédio direito, você mantém a doença controlada”, destaca. Nos primeiros anos após a descoberta do vírus, na década de 1980, o tratamento indicado para tratar HIV era a zidovudina, popularmente conhecida como AZT, medicamento com efeitos colaterais significativos.

 

Pessoas que vivem com HIV e seguem corretamente o tratamento têm vida saudável e não transmitem o vírus

O dia 1º de dezembro marca o Dia Mundial de Luta contra a aids, doença que ocorre quando a infecção pelo HIV de longo prazo causa uma queda na imunidade do paciente, possibilitando o surgimento de infecções oportunistas. “A aids acontece quando o paciente já tem essas doenças oportunistas diagnosticadas ou a quantidade de células CD4 [células do sistema imune e principal alvo do vírus HIV] no sangue menor que 200, o que seria a aids laboratorial”, explica a infectologista e diretora clínica do HSJ, Lara Távora.

 

Tratamento atual do HIV consiste em apenas duas drogas; no início, pacientes chegavam a tomar até dez drogas por dia

Já as pessoas com infecção pelo HIV, segunda Távora, são aquelas portadoras do vírus, mas que ainda não chegaram na fase da aids. “A pessoa se infecta pelo HIV e demora vários anos até desenvolver a aids, entre cinco e dez anos, em média”, complementa. A médica ressalta ainda que a melhor forma de alguém saber se foi infectado ou não pelo vírus é por meio do teste, uma vez que os sintomas da infecção podem se confundir com os de uma virose comum.

“A melhor forma de você descobrir se tem ou não vírus é se testando, principalmente se você acha que pode ter tido alguma exposição arriscada, como relação sexual desprotegida com pessoas que você não sabe se são ou não portadoras do vírus ou exposição a material biológico, como sangue ou líquido corporal que possam estar contaminados — esta mais relacionada à prática dos profissionais da saúde”, salienta.

Dados no Ceará

O primeiro caso de aids no Ceará foi diagnosticado em 1983. Segundo boletim mais recente da Sesa, elaborado pela Coordenadoria de Vigilância Epidemiológica e Prevenção em Saúde (Covep) por meio da Secretaria de Vigilância em Saúde (Sevig), já foram notificados no Estado 25.044 casos de aids em adultos, 455 casos em menores de 5 anos de idade e 20.494 casos de infecção pelo HIV.

Este ano, até 18 de novembro, foram 1.650 casos detectados de HIV e 742 de aids, de acordo com a Planilha de Notificação Semanal (PNS). O estado do Ceará tem registrado, anualmente, uma média de 970 casos novos de aids nos últimos dez anos. Até o momento, a taxa de aids registrada em 2023 é de 7,5 casos por 100.000 habitantes.

Prevenção e Tratamento

O diagnóstico e o tratamento precoces são fundamentais para impedir a evolução do HIV para a aids e, assim, evitar o surgimento de infecções oportunistas, como a neurotoxoplasmose. A doença neurológica causada pelo protozoário Toxoplasma gondii é uma das infecções oportunistas mais comuns em pessoas que vivem com HIV.

Foi justamente ela que acometeu o aposentado Luciano. Ele conta que chegava a tomar dez comprimidos por dia para controlar o HIV, fator que dificultava a adesão ao tratamento. Como nem sempre se lembrava de tomar todos os comprimidos, ele acabou adquirindo a doença neurológica. “Eu tive algumas sequelas. A audição do lado esquerdo foi perdida totalmente, e o lado esquerdo do rosto ficou totalmente paralisado”, comenta.

Seguir o tratamento da forma correta evita não só essas infeccções, mas também é capaz de interromper a transmissão do vírus, visto que uma pessoa com carga viral indetectável não é capaz de transmitir o HIV para outras pessoas.

 Infectologista Lara Távora ressalta que uso do preservativo previne contra a infecção pelo HIV e outras ISTs

O uso do preservativo — também conhecido como camisinha — durante as relações sexuais é a principal forma de prevenção contra a doença. “O preservativo é uma estratégia importante, pois protege não só contra o HIV, mas também contra outras infecções sexualmente transmissíveis”, destaca Távora. A médica, no entanto, aponta que hoje em dia existem outras formas de prevenção eficazes contra a infecção pelo HIV, como a PrEP (profilaxia pré-exposição) e a PEP (profilaxia pós-exposição).

“A PrEP é recomendada para pessoas que já sabem que vão ter exposição de risco e querem se prevenir, para que dessa exposição não venha a infecção pelo HIV. Além disso, existe a PEP, indicada quando a exposição já aconteceu e você precisa tomar uma medida para evitar que aquela exposição resulte em infecção pelo vírus. A PEP deve ser feita em até 72h após a exposição e o Hospital São José realiza esse atendimento”, informa.

Hoje, Luciano segue corretamente o tratamento e está saudável e indetectável, ou seja, não transmite mais o HIV. Desde o seu diagnóstico, em 1992, até os dias atuais, o aposentado perdeu muitos amigos diagnosticados com o vírus. “Vi muitas pessoas morrerem jovens, e eu resisti. Eu vejo um propósito de Deus na minha vida em relação a isso: vai chegar o momento da minha morte, mas, enquanto isso, eu vou vivendo de forma muito feliz. Eu sou muito grato a essa estrutura toda aqui, que é excelente. É coisa do Estado, é diferente. Esse hospital foi um norte na minha vida”, relata.