Doença de Chagas: evento leva testes e conscientização a três municípios nesta terça (28) e quarta (29)

27 de novembro de 2023 - 10:17 # # #

Assessoria de Comunicação da Sesa
Texto:Kelly Garcia
Fotos:Banco de imagens do Expresso Chagas XXI e Covat/Sesa
Arte gráfica: Thamires Oliveira

A Sesa desenvolve várias ações para evitar a transmissão da doença, como a identificação e o combate ao inseto transmissor

Reginaldo Freitas, de 57 anos, descobriu que era portador da doença de Chagas por acaso. Morador de Limoeiro do Norte, passou algumas semanas com uma palidez que chamou a atenção da família. Foi, então, incentivado a procurar assistência médica. Um eletrocardiograma constatou: seu coração estava com apenas 27 batimentos por minuto, ou seja, ele corria risco de morte. Por isso, foi transferido imediatamente para o Hospital de Messejana (HM), equipamento da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) especializado no diagnóstico e no tratamento de doenças cardíacas.

Com os batimentos cardíacos muito baixos, recebeu um marca-passo provisório e fez mais exames. “Quando cheguei no hospital em Fortaleza, foi feito mais um eletrocardiograma e um teste de covid-19. Também suspeitaram que pudesse ser a doença de Chagas e lá tive o meu diagnóstico do problema”, explica.

Depois de um ano da cirurgia para colocar o marca-passo, Reginaldo Freitas continua fazendo acompanhamento em Fortaleza. “Hoje, tomo medicamentos duas vezes ao dia para controlar a doença e sou acompanhado no Hospital de Messejana”.

Já Nilda Maia, de 61 anos, que também mora em Limoeiro do Norte, descobriu que era portadora da doença de Chagas em 2008, ao investigar uma dor crônica nas pernas. Ela relata que, em seu tempo de menina, era comum encontrar os besouros conhecidos como barbeiros. Nilda diz acreditar ter sido infectada ainda na infância, assim como um dos seus irmãos mais velhos: “nós morávamos na zona rural, meus pais eram agricultores e éramos muito pobres. Tinha muito barbeiro nas casas”, relata.

Hoje, Nilda faz acompanhamento contínuo em Fortaleza e toma remédios todos os dias. No caso dela, não houve necessidade de intervenção cirúrgica. “Não precisei fazer cirurgia, graças a Deus. Sigo só tomando os remédios”, diz.

Sintomas e transmissão

No Ceará, de acordo com o “Boletim Epidemiológico das Doenças Tropicais Negligenciadas” mais recente, divulgado em 2021, o último caso notificado de doença de Chagas aguda (DCA) foi em 2008, no município de Sobral, quando uma mulher teve a infecção confirmada por transmissão vetorial.

Entre 2015 e 2020, o Laboratório Central de Saúde Pública do Estado do Ceará (Lacen) realizou 37.188 testes para doença de Chagas crônica, com prevalência de amostras reagentes de 3%.

Pacientes com complicações cardíacas da doença de Chagas são atendidos na Unidade de Insuficiência Cardíaca Avançada e Transplantes do Hospital de Messejana (Foto: Tatiana Fortes/Casa Civil)

De acordo com o cardiologista Jefferson Vieira, que atua na unidade de Insuficiência Cardíaca Avançada e Transplantes do Hospital de Messejana, a doença de Chagas causa insuficiência cardíaca. “A doença de Chagas é a terceira principal causa desse problema que gera indicação de transplante de coração no Hospital de Messejana. Representa em torno de 20% dos procedimentos”, pontua.

A forma vetorial, que é quando há a picada do inseto, ainda permanece como a principal forma de contágio. “Hoje, 80 ou 90% dos casos ainda são devido ao contato com o vetor, no caso, o barbeiro, apesar de também ser transmitida de forma oral, através de alimentos contaminados com o inseto, como açaí e caldo de cana e, menos usualmente, de forma materno-fetal ou por transfusão de sangue”, explica o médico.

A doença de Chagas apresenta duas formas: a aguda e a crônica. “A fase aguda costuma atingir geralmente crianças, entre um e cinco anos e tem uma duração de até oito semanas, com edema no lugar onde o barbeiro picou. No entanto, a doença em sua forma crônica pode demorar até 30 anos para se manifestar. Por isso, muitos pacientes só sabem da doença entre 30 e 40 anos, quando apresentam as complicações cardíacas e/ou digestivas”, comenta.

No coração, a doença pode se manifestar com arritmia e com insuficiência cardíaca, podendo evoluir para necessidade de transplante. No sistema digestivo, no caso de algumas complicações, como o megacólon, no intestino, ou o megaesôfago, pode ser necessária uma cirurgia corretiva.

“Se é um doente mais grave, esse paciente deveria ser encaminhado para um programa com transplante associado. Com relação à doença digestiva, nem todos os pacientes precisam de cirurgia, mas, caso haja indicação de transplante de coração, essa cirurgia digestiva deve ser realizada antes. Por isso, é necessário manter esses pacientes com doença de Chagas em um acompanhamento muito próximo”, esclarece o cardiologista.

Combate e erradicação

Segundo a articuladora do Grupo de Trabalho em Doença de Chagas da Coordenadoria de Vigilância Ambiental e Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora (Covat) da Sesa, Cláudia Mendonça, a Sesa desenvolve várias ações para evitar a transmissão da doença. Entre elas, a identificação e o combate ao inseto transmissor, assim como ações de educação.

“Fazemos a distribuição e a capacitação sobre o correto uso de inseticida para as ações de controle químico da doença de Chagas nos municípios em cujos domicílios foram identificados esses insetos. Outra ação importante é o monitoramento de amostras biológicas, como soro e coágulos, de hospedeiros domésticos do protozoário, no caso, cães e gatos, coletados em domicílios”, cita.

Cláudia Mendonça ressalta a importância da coleta do besouro transmissor. “É necessário fazer o controle do vetor. Ao encontrar o inseto, a orientação é levar à unidade de saúde mais próxima, ao setor de endemias das secretarias municipais de saúde ou a um Posto de Informação de Triatomíneos (PIT). Hoje, existem cerca de 1.050 postos de coleta desses insetos em todo o Estado. Ao achar que foi picado pelo barbeiro, a pessoa deve procurar a unidade de saúde e, se possível, encaminhar o inseto ao PIT”, diz.

O tratamento da Doença de Chagas é realizado em várias unidades da Sesa, a depender da fase e do tipo da doença. “Nos casos agudos, os pacientes são encaminhados para o atendimento terciário, assim como se houver complicações cardíacas ou digestivas. A suspeita clínica, diagnóstico precoce, tratamento de casos indeterminados e acompanhamento ao longo da vida deve ser feito, em sua maioria, na atenção primária”.

O Hospital de Messejana realiza o acompanhamento dos pacientes com complicações cardíacas da doença de Chagas, enquanto o Hospital Geral de Fortaleza (HGF) acompanha quem apresenta as complicações digestivas.

Expresso Chagas XXI chega ao Ceará no dia 28

Com objetivo de traduzir as descobertas sobre doença de Chagas (DC) em práticas de educação, informação e promoção da saúde de forma integrada e lúdica, será realizado o evento Expresso Chagas XXI. A iniciativa é do Instituto Oswaldo Cruz-Fiocruz, em parceria com Grupo Técnico em Doença de Chagas da Sesa e da Superintendência Regional do Litoral Leste/Jaguaribe.

O Expresso Chagas XXI promove práticas de educação, informação e promoção da saúde de forma integrada e lúdica sobre a doença de Chagas e já percorreu  várias cidades brasileiras. (Foto: Divulgação/ Expresso Chagas XXI)

As expedições no Ceará começam em Limoeiro do Norte (28 e 29 de novembro) e depois seguem para Quixeré (30 de novembro) e Tabuleiro do Norte (1º de dezembro). Nas três cidades, que têm a maior prevalência de casos crônicos do Estado, também serão disponibilizados 1.500 testes rápidos.

‌‌A equipe do Expresso Chagas XXI esteve em Limoeiro do Norte em maio e realizou um workshop já planejando essa ação. “Tivemos uma experiência muito positiva, com discussão aprofundada das necessidades locais e comprometimento dos participantes. Acreditamos que a iniciativa vai fazer a diferença no enfrentamento da DC crônica no Ceará, ampliando a educação e a promoção da Saúde e criando um polo de multiplicação de agentes para todo o Estado”, destaca Tânia Araújo-Jorge, coordenadora da iniciativa.

A articuladora do Grupo de Trabalho em Doença de Chagas da Covat da Sesa, Cláudia Mendonça, também participou do workshop do Expresso Chagas XXI em maio (Foto: Divulgação Covat/Sesa)

A expedição tem o nome de Expresso Chagas XXI porque leva às localidades um trem imaginário, com estação e vagões temáticos – uma analogia ao vagão no qual morou e trabalhou o cientista Carlos Chagas, de 1907 a 1909, no norte de Minas Gerais. O projeto já esteve em dez cidades e realizou quatro edições do curso de formação, atingindo 200 profissionais.

‌Chagas estava fazendo estudos sobre malária quando viu micro-organismos diferentes numa amostra de sangue e, assim, descobriu um novo parasita e o batizou de Trypanosoma cruzi, em homenagem ao seu mestre, Oswaldo Cruz.