De acompanhante a cuidador: os desafios da assistência em saúde de familiares

8 de dezembro de 2022 - 15:39 # # # #

Assessoria de Comunicação da CCC
Texto e fotos: Márcia Catunda


Na Casa de Cuidados do Ceará, os cuidadores, geralmente familiares de pacientes, são capacitados para executar a função; assistência fortalece o vínculo afetivo

O papel do cuidador vai além de uma simples ajuda. Ele apoia o paciente durante toda a recuperação, colabora na socialização da pessoa internada e é considerado o braço direito da equipe assistencial de saúde. A Casa de Cuidados do Ceará (CCC), vinculada à Secretaria da Saúde do Estado (Sesa) e gerida pelo Instituto de Saúde e Gestão Hospitalar (ISGH), possui 65 cuidadores exercendo a função nos leitos do equipamento.

Há quem esteja nesse lugar pela primeira vez, como é o caso de Raquel Braga, de 48 anos. Há mais de 12 meses, ela cuida da mãe, Maria do Rosário Braga, de 68, diagnosticada com esclerose lateral amiotrófica (ELA) e fazendo uso de ventilador mecânico. “Minha mãe tinha uma vida saudável até desenvolver a doença. Foi algo repentino, ninguém esperava. No momento de ser cuidadora, confesso que me senti insegura, pois não sabia de nada. Hoje, estou bem mais segura, graças à experiência adquirida e ao apoio da equipe de saúde da Casa”, conta a filha.

Ainda segundo Raquel, o apoio dos familiares foi fundamental. “Nesse momento difícil, nossa família teve de se unir. Meu pai e meu irmão também ajudam nos cuidados; somos exemplo de dedicação. É o momento de retribuir o que ela fez por nós”, reconhece.

Já Kailane Gondim viveu uma experiência dupla na maternidade. Além dos cuidados com o filho de 1 ano, a jovem passou a ser responsável pela recuperação da mãe, vítima de um acidente de moto. “Ela passou a ser observada por profissionais incríveis, dentre eles médicos, enfermeiros e fisioterapeutas. Aqui (CCC), ela recuperou alguns movimentos e conseguiu sentar. É como se ela fosse uma criança de novo, reaprendendo a andar e falar”, detalha.

Gondim enfatiza que a rotina não é parecida com a da recente maternidade. “Já fazia isso com meu bebê, mas com um adulto é totalmente diferente, é bem mais complexo”, compara.

Ronaldo Lima, de 51 anos, já atuou em diversas áreas. A mais nova experiência é a de ser cuidador do próprio pai, Edmilson Dantas, de 76, atividade que exerce com exclusividade. O paciente sofreu um trauma após queda. Os dois estão na Casa de Cuidados há quatro meses.

“Acompanho meu pai desde quando ele estava internado no hospital. Durante esse período, sempre prestei atenção no trabalho da equipe e passei a pesquisar sobre cuidados com sonda, higiene e uso de medicamentos”, pontua Ronaldo.

Apesar dos desafios, o filho encarou com naturalidades as novas atribuições. “Não esperava que fosse dessa forma, mas sempre tive consciência de que a vida é um ciclo que dá muitas voltas e que os papéis se invertem”.

Capacitação de cuidadores

Diante da responsabilidade, é preciso treinar os cuidadores para que a assistência seja desempenhada da melhor forma, principalmente por quem a faz pela primeira vez. A CCC promove capacitações junto à equipe todas as semanas. “Além disso, é realizado um treinamento de 40 horas, com entrega de certificado, voltado para o manejo de quem depende de cuidados especiais”, destaca a gerente do equipamento, Itala Oliveira.

Informações sobre o posicionamento do leito, a mobilização do paciente, a manutenção de equipamentos, os cuidados com a sonda, a higiene e a alimentação, por exemplo, são repassadas aos cuidadores, que são orientados também sobre o que fazer diante de intercorrências e como evitar dores nas articulações. Todas as atividades fortalecem o vínculo familiar (no caso de cuidadores que são parentes de internados) e o suporte no enfrentamento a doenças.

“Eu, cuidador”

A CCC promove, ainda, o projeto Eu, cuidador, cujo objetivo é promover momentos de escuta e diálogos com quem exerce a função.

Pacientes instalados no equipamento podem indicar um cuidador de confiança para acompanhá-los no processo de reabilitação. “Por isso, investimos na capacitação e na qualificação deles”, acrescenta Oliveira.

A Casa oferece assistência de profissionais das áreas de Enfermagem, Fisioterapia, Serviço Social, Fonoaudiologia, Terapia Ocupacional, Nutrição e Psicologia. Também são feitas visitas médicas, com a adoção de todos os protocolos necessários para a transição entre a estrutura hospitalar e o domicílio do paciente.