Covid-19: segundo ano da pandemia carrega aprendizados e perspectivas de superação

15 de março de 2022 - 09:42 # # # # # # # # #

Assessoria de Comunicação da ESP/CE
Texto: Elon Nepomuceno
Fotos: Arquivo pessoal/Divulgação ESP/Tatiana Fortes
Arte gráfica: Saulo Cruz

Há exatos dois anos, o Ceará confirmava os primeiros casos da doença que viria a ser um dos maiores desafios da saúde pública na história. À época, o vírus causador da covid-19 até já era conhecido, mas surpreendeu a ciência ao se apresentar em uma nova versão, mais transmissível e letal: a Sars-CoV-2.

De lá para cá, vários foram os obstáculos enfrentados pelos cearenses por causa da crise sanitária. O maior, sem dúvidas, foi chorar a perda de cerca de 26 mil vidas para o coronavírus. Em paralelo, tivemos, ainda, de adaptar hábitos, como aderir ao isolamento social e, quando necessário sair de casa, esconder o sorriso atrás das máscaras. Especialistas estimam que essas medidas, amplamente recomendadas e defendidas pela Organização Mundial da Saúde (OMS), foram fundamentais para controlar o quadro pandêmico no período em que as vacinas ainda estavam em desenvolvimento.


Denise Teixeira, Luzia Teixeira e Bárbara Danthéias em uma das primeiras saídas de casa, após o isolamento social

A jornalista Bárbara Danthéias, 31, seguiu rigorosamente as orientações das autoridades sanitárias. Morando com a avó idosa e a mãe recém-curada de um câncer, ficar em casa, para ela, acima de tudo, foi um ato de amor. “A toda hora, amigos e conhecidos comunicavam que entes queridos haviam falecido por conta da doença. Como os idosos faziam parte do grupo mais vulnerável à covid-19, eu logo pensei na minha avó. Ela tem mais de 80 anos, é hipertensa e já sofreu um princípio de AVC [Acidente Vascular Cerebral]. Logo, encaixava-se no grupo de risco. Além disso, temia pela saúde da minha mãe, que havia terminado um tratamento contra um câncer de mama em dezembro de 2019, poucos meses antes do anúncio da primeira infecção por coronavírus no Brasil. Então, comecei a seguir as recomendações da OMS”, relembra Danthéias.

Durante cerca de um ano e meio, a jornalista só saiu de casa para consultas médicas e trabalho. “Felizmente, ninguém da minha casa se infectou durante todo esse tempo. Fizemos testes em diferentes momentos da pandemia e o resultado sempre deu negativo. Estamos todos – eu, minha avó, minha mãe e meu padrasto – vacinados com as três doses da vacina e seguimos sem os sintomas característicos da doença”, afirma.


O Hospital Estadual Leonardo Da Vinci (Helv) foi adquirido pelo Governo do Ceará para dar assistência exclusiva a pacientes com covid-19

Se nas ruas o clima era de medo e incerteza, dentro das unidades de saúde não foi diferente. O médico infectologista, Lino Alexandre, presenciou os primeiros momentos da pandemia no Hospital Estadual Leonardo Da Vinci (Helv), adquirido pelo Governo do Ceará para dar assistência exclusiva a pacientes infectados pelo coronavírus. O especialista classifica a situação como uma das mais marcantes em seus 25 anos de medicina. “No início, foi tudo muito novo e preocupante. ‘Como cuidar das pessoas? Como se proteger de uma doença que não tinha uma conduta definitiva’? Várias pessoas evoluíram para óbito: pais, mães, avós. Marcou a minha vida de médico. Presenciei o que apenas tinha ouvido durante o meu processo de aprendizado ou na literatura sobre pandemias”, relata Alexandre.

De acordo com o secretário da Saúde do Ceará, Marcos Gadelha, a condução da pandemia no Ceará é baseada no conhecimento científico que respalda a tomada de decisões. “O Estado se destacou até internacionalmente, pois uma das coisas fundamentais nesse processo foi trabalhar bem os dados e as informações que temos. Nossas diretrizes são definidas de forma compartilhada, com reponsabilidades divididas entre os técnicos que detêm o conhecimento da ciência, mas também fazendo articulação intersetorial com outras áreas do Governo e da sociedade, como o setor da economia, por exemplo. Em alguns momentos, essa tomada de decisão não é fácil“, relata.

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Inovação que salvou vidas

O Ceará também tem ocupado lugar de destaque quando o assunto é inovação em saúde. Com o capacete de respiração assistida Elmo, fruto de parceria público-privada, centenas de vidas foram salvas ao longo das três ondas da pandemia no Estado. Estudos apontam que o equipamento pode reduzir em 60% a necessidade de internação em UTI. Só na Rede Sesa, aproximadamente 2.700 pacientes utilizaram o dispositivo e não precisaram ser intubados.


Só na Rede Sesa, aproximadamente 2.700 pacientes utilizaram o dispositivo e não precisaram ser intubados

Na avaliação dos pesquisadores, o Elmo surgiu como um novo passo para o tratamento de pessoas com insuficiência respiratória aguda hipoxêmica por covid-19.

O projeto é uma iniciativa conjunta entre a Universidade de Fortaleza (Unifor), Universidade Federal do Ceará (UFC), Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), por meio do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai Ceará), e Governo do Estado do Ceará, por meio da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), da Escola de Saúde Pública do Ceará (ESP/CE) e da Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Funcap). O capacete Elmo também conta com o apoio da Esmaltec e Instituto de Saúde e Gestão Hospitalar (ISGH).

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Panorama atual

Hoje, o cenário já nem parece o vivenciado nos primeiros meses. Na rede pública de saúde, por exemplo, diversos profissionais integram uma força-tarefa, a fim de aperfeiçoar protocolos, desenvolver fluxogramas e gerenciar, da melhor forma, o manejo de pacientes que contraíram a infecção respiratória.

No momento, a taxa de ocupação dos leitos de UTI por covid-19 está abaixo de 30%

A taxa de ocupação atual das Unidades de Terapia Intensiva (UTI) por pacientes com coronavírus também é diferente da notificada há dois anos, ficando abaixo de 30% nas primeiras semanas deste mês de março, conforme os dados da plataforma IntegraSUS, da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa).

Mesmo o comportamento da doença ainda sendo um desafio para todo o mundo, o cientista-chefe da Saúde do Estado e coordenador do Centro de Inteligência em Saúde do Ceará (Cisec), José Xavier Neto, destaca que o Ceará tem adquirido experiências satisfatórias no enfrentamento à covid-19. “O Cisec integra, hoje, um trabalho de monitoramento da presença do Sars-Cov-2 nos esgotos de Fortaleza. Com isso, a gente consegue detectar, com pelo menos 20 dias de antecedência, alguma mudança na curva epidemiológica na Capital, permitindo-nos tomar decisões mais rápidas e efetivas contra a doença”, explica.

Desde 2020, o órgão auxilia a gestão da Sesa com Inteligência em Saúde, em forma de boletins, relatórios e análises relacionadas à covid-19 no Estado.

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O Estado do Ceará já aplicou mais de 18 milhões de vacinas contra a covid-19, imunizando mais de 70% de sua população com duas doses

doses de esperança vindo também da vacinação. Após pouco mais de um ano do início da campanha, mais de 18 milhões de aplicações do imunizante contra o coronavírus foram feitas no território cearense. Já o percentual da população totalmente imunizada, com duas doses ou dose única, ultrapassa 70%.

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Perspectivas

Diante da melhora dos indicadores e do ritmo acelerado da vacinação, muito se pergunta sobre o fim da pandemia. Afinal, é hora de relaxar a vigilância e voltar a viver a rotina de antes? O infectologista e consultor especial da Escola de Saúde Pública do Ceará Paulo Marcelo Martins Rodrigues (ESP/CE), Keny Colares, reconhece o cenário mais otimista, mas defende que as estratégias de enfrentamento sejam mantidas. “Este ano, a gente observou um comportamento da onda pandêmica um pouco diferente, com uma intensidade maior, porém mais rápida. Isso aconteceu em todo o mundo. Por enquanto, a tendência é de melhora de indicadores, e imagino que isso continue, mas ninguém sabe até quando”, destaca.


O infectologista e consultor da ESP/CE, Keny Colares, reconhece o cenário mais otimista, mas defende que as estratégias de enfrentamento sejam mantidas

A partir das pistas deixadas pelo Sars-CoV-2 ao longo dos últimos 24 meses, Colares acrescenta: “O mais provável é que a gente tenha períodos de calmaria e períodos de novas ondas, e pode não acontecer. Mas é o que ocorreu em anos anteriores: ondas maiores e menores, observando o padrão da influenza. Por enquanto, nós devemos nos preparar para conviver com a doença desse jeito. E não contar que a covid-19 foi embora em definitivo”, alerta o infectologista.