Ambulatório Sertrans é habilitado pelo Ministério da Saúde e torna-se política de Estado

2 de fevereiro de 2022 - 13:41 # # # # # #

Assessoria de Comunicação do HSM
Texto: Milena Fernandes
Arte gráfica: Saulo Cruz


“É muito difícil viver em um corpo com o qual você não se identifica”. O relato é da cuidadora Sophia dos Santos Leite, 25, que é paciente há mais de um ano do Serviço Ambulatorial Transdisciplinar para pessoas Transgênero (Sertrans) do Hospital Professor Frota Pinto (HSM), unidade da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa).

A jovem mora em Caririaçu, distante cerca de 460 km de Fortaleza. Ela garante que vale a pena passar cerca de seis horas na estrada para receber o atendimento multiprofissional do equipamento. “Quando chego aqui, sou muito bem tratada, todos os profissionais me recebem com atenção e carinho. Não deixo de comparecer às consultas, apesar de morar longe, pois me sinto muito bem assistida”, avaliou.

O Sertrans foi criado no fim de 2017 como uma atenção do nível secundário para proporcionar acompanhamento relacionado ao processo transexualizador, contando com o atendimento de diversos profissionais, como assistentes sociais, endocrinologista, enfermeiros, psicólogos e psiquiatras. No último dia 28 de janeiro, um dia antes da data nacional que marca a visibilidade trans, o serviço foi habilitado pelo Ministério da Saúde e, assim, tornou-se política de Estado. A decisão foi compartilhada em reunião da Comissão Intergestores Bipartite (CIB).

Leia também: Felipe, Dara e Esther: vidas trans que mudam a Saúde cearense

Com a habilitação, de acordo com o enfermeiro e coordenador do ambulatório, Emanuel Moura, vai ser possível dar continuidade ao serviço e organizar ainda mais esta linha de cuidado. “Esse feito simboliza a transição de uma política de governo – que tem seu financiamento associado a emendas – para uma política de Estado, na medida em que o Ministério da Saúde reconhece o serviço e passa a financiá-lo no conjunto de ações da política de Saúde”, enfatiza.

Além disso, a habilitação, segundo o coordenador, abre espaço para que hospitais de nível terciário possam propor a estruturação de serviços que complementem as demandas de atenção ao processo transexualizador, no que se refere a mudanças corporais, as quais são, para muitas dessas pessoas, um elemento fundamental para efetivar uma melhor qualidade de vida. “Com essa habilitação, o Sertrans vai contar com financiamento do Ministério da Saúde e oportunizar hospitais a pleitearem a habilitação de procedimentos cirúrgicos de transexualização”, diz.

Visibilidade trans

Para ele, o Sertans marca a luta por visibilidade trans na medida em que representa o reconhecimento do setor da Saúde para demandas de atenção específica e cuidado à esta população. “É inegável, entretanto, que a efetivação de uma linha de cuidado integral às pessoas trans deve partir do acolhimento qualificado da Atenção Primária, como tem sido realizado nos postos de saúde, onde inicia o fluxo de encaminhamento para o Sertran, por meio de avaliação inicial e regulação do caso via sistema informatizado para o ambulatório”, explica.

Moura também pontua que a localização atual do serviço no HSM seguiu dois aspectos: a existência de um grupo de profissionais que trabalhava na perspectiva de sexualidade e gênero, o que viabilizou a compreensão da especificidade dessa população, com interesse em estruturar um projeto de implantação do ambulatório; e por ter sido o serviço no contexto da gestão estadual que prontamente se disponibilizou a oferecer assistência ambulatorial às pessoas trans diante da circunstância política de mobilização que envolveu Dandara dos Santos, travesti brutalmente assassinada em 2015, em Fortaleza.