Sem acompanhamento, menopausa pode ter repercussões graves

21 de junho de 2021 - 14:21 # # # # #

Assessoria de Comunicação do HMJMA
Texto e foto:
Diana Vasconcelos


Ginecologista-obstetra Francisco Nogueira Chaves, do HMJMA, afirma que mulheres assintomáticas são as que mais preocupam, pois não percebem algumas mudanças internas no organismo

A menopausa é o nome dado à última menstruação. É um evento fisiológico e normal da vida da mulher que ocorre por volta dos 50 anos de idade. A partir deste momento, os ovários param de produzir os hormônios estrogênio e progesterona, responsáveis pelo ciclo menstrual. Este também é o período da vida denominado de climatério, o qual pode ser bastante conturbado para algumas mulheres devido aos sintomas.

Mas, independentemente de ter ou não sintomas, todas elas precisam de acompanhamento. Segundo o ginecologista-obstetra Francisco Nogueira Chaves, coordenador dos serviços de maternidade e ginecologia do Hospital e Maternidade José Martiniano de Alencar (HMJMA), da Secretaria de Saúde do Estado do Ceará (Sesa), são as mulheres assintomáticas as que mais preocupam, pois repercussões graves podem estar acontecendo em seu organismo mesmo que ela não os perceba. O especialista fala sobre a chegada da menopausa e as formas de acompanhamento.

O que é a menopausa?

A menopausa, na verdade, é um evento. Não é um intervalo de tempo. É quando a mulher olha para trás e pode dizer “menopausei em junho de 2020, porque aquela foi a minha última menstruação, a partir da qual faz um ano que não sangro”. Então, menopausa é um fenômeno, um momento. Agora, o antes e o depois desse momento ocorrer, quando você tem mudanças hormonais pela deficiência hormonal e falência dos ovários, aquilo tudo é chamado de climatério.

Entre os mais comuns e os mais raros, quais são os sintomas da menopausa?

O que caracteriza o climatério é a diminuição de estrógeno e progesterona produzida pelo ovário. Sendo assim, todas aquelas funções desse estrógeno e dessa progesterona podem manifestar reações no organismo da mulher. Então aquele ovário que ciclava de forma redonda, normal, com estrógeno e progesterona em quantidades adequadas, de repente, ela não ovula. (…) Mas do ponto de vista crônico, que é a maior preocupação do ginecologista, a paciente vai ter repercussões geniturinárias, ósseas, vasculares e até a nível central (Sistema Nervoso Central).

Tem uma idade certa para isso acontecer?

Existe aquela idade que é a mais comum, por volta de 45 e 50 anos de idade. Porém, pode ser um pouco depois e pode ser um pouco antes. Quando ela é antes dos 40 anos, a gente dá aquela denominação de precoce, ou seja, essa paciente vai ficar privada desses hormônios em todas essas áreas que nós falamos anteriormente. E essa é uma paciente que, com certeza, vai ter mais propensão a ter os agravamentos crônicos da deficiência.

Ao perceber sintomas, o que a mulher deve fazer?

Vou fazer um parêntese bem importante aqui: a preocupação é com as (pacientes) não sintomáticas. Porque as sintomáticas procuram o profissional para tratar os sintomas. Mas muitas são assintomáticas, porém, não deixam de ter os problemas crônicos lá na frente. Então, o fato de você não estar sentindo nada, não significa que você está bem, seus ossos podem estar sofrendo, a parte geniturinária pode estar sendo comprometida, a parte sanguínea vai estar com problemas. Apenas você está falsamente sobre equilíbrio, em algum momento tudo vai aparecer.

Então, quando a gente fala de sintomas, essas são ótimas… “Doutor, eu não aguento, sinto uns calores muito fortes e depois vem o frio. Eu não durmo bem, acordo várias vezes à noite, meu coração dispara, fico irritada em casa”. Essa procura ajuda, mas as que não sentem nada e estão perto dessa idade também devem procurar um profissional para fazer um acompanhamento.

De que forma se dá o tratamento? É preciso apoio psicológico?

O acompanhamento se resume em uma coisa básica: eu tinha um órgão que produzia uma substância A e agora não tenho mais. Então, se a paciente não possui contraindicação, eu tenho que repor a substância A. Ela tem necessidade de repor os hormônios que vão permitir que ela ainda tenha qualidade de vida. E, dependendo do tipo de reposição que for escolhido, ela pode ter o ciclo menstrual. Existem várias substâncias, várias vias, com certeza as pacientes vão se encaixar em uma delas.

No que se trata de apoio psicológico, eu diria que todo mundo deveria ter. A gente não cuida muito da mente, muitas pessoas cuidam do corpo com ginástica, dieta. Mas poucos fazem “ginástica cerebral” e todas as pessoas deveriam ter esse cuidado; é fundamental.

Há formas de prevenir ou amenizar sintomas mais fortes?

Na verdade, essa prevenção deveria começar na infância. A gente sabe que, quando se é jovem, uma das coisas mais importantes é a massa óssea. Nessa fase você vai ter um pico de massa óssea que, depois de 20, 25 anos, você vai manter. E depois dos 40, você vai perder. Se você nunca fez uma boa quantidade de massa óssea, não vai ter milagre. (Na infância) entra alimentação, atividade física, banho de sol, do qual a gente se esconde. O sol deve ser tomado entre 10h e 14h, porém o tempo que você precisa se expor é de apenas 10 a 50 minutos, a depender da cor da pele e idade. Isso não faz mal e você consegue o hormônio D.

É possível engravidar após a menopausa?

Hoje é difícil não ser possível engravidar. Uma mulher menopausada, se ela não tem óvulos, ela pode receber de uma que não é menopausada. Ela pode entrar num programa de doação de óvulos; dela própria é pouco provável, praticamente é impossível. Mas, na literatura, tudo acontece.

Ela também pode congelar óvulos e usar após a menopausa, quando chegar na idade que ela quiser engravidar; ela pode receber os hormônios que são necessários para gravidez e receber o óvulo. Se ela não tiver útero, ela terá de ter uma barriga de aluguel. Transplantes de útero já existem, mas ainda é muito recente.

O que é definitivo na menopausa?

O dia a dia. Cada dia você usa um tempo da sua vida, isso é definitivo. Mas eu posso ter qualidade de vida com o menor dano possível. A gente perde um pouco, faz parte, mas a forma como cuidamos do nosso corpo faz toda diferença.