Vida que se renova na doação: saiba o caminho do transplante de órgãos no Ceará
11 de setembro de 2025 - 16:25 #doação de órgãos #setembroverde2025 #transplantes
Assessoria de Comunicação da Sesa
Texto: Evelyn Ferreira
Foto: Jéssica Fortes e Ascom SSPDS
Arte gráfica: Carla Bandeira


Coração em transporte para realização de transplante (Foto: Jéssica Fortes/ Ascom HM)
Quatro horas. Esse é o tempo que um coração pode esperar para chegar até o paciente que precisa de um transplante, de acordo com o Sistema Nacional de Transplantes, do Ministério da Saúde. Para que a cirurgia aconteça com sucesso, muitas etapas e muitos profissionais estão envolvidos em todo o percurso. O processo é complexo e precisa de um alinhamento perfeito. Cada segundo faz diferença.
O tempo é um fator importante a ser considerado desde a morte de um paciente até o transplante em si. Nesse período acontece a isquemia, quando o órgão deixa de receber sangue do doador e, consequentemente, deixa de receber nutrientes e oxigênio. Cada órgão tem um tempo diferente de isquemia. Coração, pulmão e intestino resistem quatro horas sem circulação de sangue. Fígado e pâncreas podem aguardar em média 12 horas até o transplante em condições adequadas. Já os rins têm tempo de isquemia de 48 horas.
Por causa desse tempo hábil, a organização, que vai da comunicação aos familiares de um potencial doador até a cirurgia do transplante, precisa ser milimetricamente orquestrada. No Estado, a Central de Transplantes (Cetra), que funciona na Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), coordena esse processo. Tudo precisa acontecer de forma rápida para que os órgãos que serão doados sejam preservados.
“Quando há suspeita de uma morte encefálica, uma série de alterações já estão acontecendo desde a lesão grave que ocorreu no cérebro do paciente. E aí os órgãos já vão sendo atingidos. Consequentemente, como o cérebro controla todos os outros órgãos, se o cérebro já não está funcionando adequadamente e vai parar de funcionar, alterações nos órgãos já começam a ocorrer”, pontua a coordenadora da Central, Eliana Barbosa.
Corrida contra o relógio
Para que o transplante seja feito, por um lado, a equipe profissional da unidade de saúde precisa identificar o potencial doador, que é um paciente com morte cerebral. Após a identificação, a Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante (Cihdott) do hospital precisa agir para notificar a Central de Transplantes, para que haja a identificação de potenciais receptores.
Após a notificação, uma equipe multidisciplinar entra em contato com a família do possível doador. Esses profissionais têm o papel de confortar os familiares no momento do luto e passar informações sobre o processo de doação de órgãos, tirando todas as dúvidas que surjam.

Central de Transplantes organiza processos que envolvem as doações e cirurgias
“Hoje a doação só ocorre após a autorização familiar. Há uma equipe capacitada em comunicação e entrevista familiar. Essa equipe vai acolher essa família e vai estabelecer uma relação de ajuda inicialmente. Depois que a família compreende que seu ente querido está morto, então é oferecida a oportunidade da doação de órgãos”, explica Eliana.
Quando a família aceita doar, a equipe de transplantes é acionada para realizar o procedimento de retirada do órgão (ou órgãos) e realizar o transporte até o local onde o paciente receptor fará a cirurgia. Na maior parte dos casos, segundo Eliana Barbosa, o deslocamento é feito por via terrestre. Mas, se a cirurgia de transplante for feita em local mais distante, uma aeronave é acionada, por meio da Casa Civil.

Aeronave da Coordenadoria Integrada de Operações Aéreas do Ceará (Ciopaer) realizando transporte de órgãos do Hospital Regional Vale do Jaguaribe (HRVJ), em Limoeiro do Norte, para unidade de saúde localizada em Fortaleza (Foto: Ascom SSPDS)
Do outro lado do processo, o paciente que irá receber o órgão doado precisa também ser preparado. Após o aceite da família doadora, a Central de Transplantes localiza o possível receptor. É necessário haver compatibilidade entre o doador e o receptor para que o transplante se concretize. Além disso, o paciente precisa ter condições de saúde favoráveis para passar pelo procedimento cirúrgico. Se o paciente não estiver internado, é necessário que ele se desloque até o local da cirurgia para ser preparado.
Comunicar em vida a familiares e pessoas próximas o desejo de ser doador de órgãos pode auxiliar no momento da tomada de decisão por parte das pessoas responsáveis após a identificação da morte encefálica.
“Se a família tem o conhecimento prévio desse desejo, a gente acredita que ela vai atender. Por isso que, durante as campanhas, é importante comunicar à família que você quer ser um doador de órgãos e tecidos. Isso realmente facilita e é importante para uma tomada de decisão nesse momento em que é oferecida a oportunidade da doação”, enfatiza Eliana.
Números

Equipe médica realizando procedimento de transplante de coração (Foto: Jéssica Fortes/ Ascom HM)
Em 2025, até o dia 1º de setembro, a Central de Transplantes do Ceará registrou 1.378 transplantes de órgãos, tecidos e medula. O transplante renal é o procedimento envolvendo órgãos sólidos mais realizado no Ceará nesse período, com 182 cirurgias realizadas (com doadores vivos ou mortos). O segundo mais frequente é o de fígado, com 153 transplantes registrados. Quando se trata de transplante de tecidos, o Estado registra até o momento 922 procedimentos.
No ano passado, foram contabilizadas 2.209 cirurgias do tipo no Ceará. O número representa o maior já registrado desde 1998, quando o Estado começou a realizar transplantes.
Setembro verde
Durante o mês de setembro, a Sesa irá divulgar uma série de reportagens que abordam a doação de órgãos, reforçando a importância do ato e, também, o esforço conjunto entre profissionais da saúde e familiares para que vidas sejam transformadas.
A série tem alusão à campanha Setembro Verde, que aborda a conscientização para a doação de órgãos e tecidos.
Nas reportagens, também será trazida a relevância do diálogo como caminho facilitador para a tomada de decisão por parte de familiares no momento do luto.