Pontos de Luz: HGF faz parte de rede que acolhe vítimas de violência sexual no Ceará
2 de julho de 2025 - 11:09 #humanização #pontos de luz #violência sexual
Assessoria de Comunicação do HGF
Texto e foto: Filipe Dutra
O acolhimento humanizado e, principalmente, a ausência de julgamento são essenciais para vítimas de violência sexual
A vida de Maria (nome fictício) sofreu um baque num dia que era para ser de festa. Foi durante seu aniversário que ela foi vítima de violência sexual. Depois de algum tempo, ela sentiu a menstruação atrasar. A mulher procurou o Hospital Geral de Fortaleza (HGF), equipamento da Secretaria da Saúde do Estado do Ceará (Sesa), no mesmo dia em que realizou testes rápidos. “Me tranquilizaram, me acolheram, me levaram para uma sala separada, conversaram comigo. Buscaram entender a minha história”, relata, com os olhos marejados de dor e de conforto.
A procura de Maria pela unidade de saúde não foi aleatória. Uma pesquisa na internet mostrou a ela que o HGF é um dos hospitais que integram a Rede de Atenção à Saúde das Pessoas em Situação de Violência Sexual e Doméstica (Rede Pontos de Luz), que, na Sesa, conta também com Hospital Geral Dr. César Cals (HGCC), Hospital Infantil Albert Sabin (Hias) e Hospital Regional Norte (HRN). Ela consiste em um conjunto de serviços organizados para acolher as pessoas com diversas especificidades de situações de violência, contemplando serviços ambulatoriais e hospitalares.
A rede oferece acolhimento humanizado, garantindo que a pessoa seja ouvida atentamente, sem julgamento, questionamento ou preconceitos. A confidencialidade e o sigilo são assegurados em um ambiente seguro e privativo, permitindo que a pessoa fale abertamente sobre suas experiências sem medo de julgamentos. Conta com uma equipe multiprofissional para um atendimento integral e proporciona acesso a profilaxias para a prevenção de gestação indesejada e/ou Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs), além de oferecer informação e orientação para que a pessoa conheça seus direitos e os encaminhamentos necessários.
Foram estes atendimentos que Maria recebeu e, hoje, seu sentimento, de uma forma geral, é de alívio. “Há um sentimento de culpa que é normal, por coisas que a sociedade impõe para a gente. Mas, com relação ao resto, só alívio. Me senti muito segura o tempo todo, os profissionais são excelentes”, ressalta.
“É fundamental que, diante de uma situação de violência, a vítima não se sinta culpada. Infelizmente, a sociedade muitas vezes leva a mulher a se autoculpar pela roupa, pelo local, ou até mesmo pela forma de se expressar. Contudo, a vítima jamais deve ser responsabilizada. A violência sexual não se restringe apenas ao aspecto físico; ela tem profundas consequências sociais, psíquicas e econômicas, impactando mulheres que, por vezes, não conseguem permanecer em seus próprios lares”, complementa Juliete Janinié Gadêlha Luiz, assistente social da Obstetrícia e integrante da equipe do Flor de Lótus – que é como o programa é chamado no HGF.
A médica ginecologista obstetra e também integrante do Flor de Lótus, Soraya Cristina Guedes de Medeiros, definiu a importância da política de acolhimento. “A violência contra a mulher é uma grande violação, tanto do ponto de vista dos direitos humanos da mulher, quanto da saúde. Se uma paciente vítima de violência não for bem atendida, bem acolhida, ela pode ter complicações por ISTs e outros problemas maiores”, disse.
A iniciativa é bastante bem-vinda em um contexto no qual a violência sexual é um grave problema do Brasil. O país teve cerca de 822 mil casos de estupro a cada ano, o que equivale a dois casos por minuto, conforme dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). O Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), do Ministério da Saúde, aponta que a maioria dos casos de estupro ocorre entre jovens, sendo as meninas de 13 anos as principais vítimas. Os principais agressores são pessoas próximas às vítimas, incluindo familiares, parceiros e ex-parceiros, amigos e conhecidos, tanto em situações de violência física quanto sexual. Além disso, as estatísticas revelam que mulheres trans são mais sujeitas a sofrer violência do que mulheres cisgênero, e mulheres indígenas, pretas e pardas sofrem mais violência do que mulheres brancas. Vale destacar ainda que, em 2025, 37 pacientes do HGF foram notificadas como vítimas de violência sexual.
Por que ‘Flor de Lótus’?
Desde sua implementação no HGF, em 2017, o programa de acolhimento a pessoas em situação de violência sexual recebe o nome da flor de lótus (Nelumbo nucifera). O nome foi sugerido pela atual diretora de Enfermagem do hospital, Regina Sá, que, à época, trabalhava na Obstetrícia. “Ela simboliza superação, renascimento. Fala-se que ela emerge do lodo sem que suas pétalas sejam manchadas pela impureza da água. E é, de certa forma, o trabalho que buscamos fazer aqui”, relata.
Saiba onde procurar ajuda na Rede Sesa
Hospital Geral de Fortaleza (HGF) – Programa Flor de Lótus
Endereço: Rua Professor Otávio Lobo, 80 – Papicu – Fortaleza/CE (acesso pela Emergência)
Telefone: (85) 3457-9260
Hospital Infantil Albert Sabin (Hias)
Endereço: Rua Tertuliano Sales, 544, Vila União – Fortaleza/CE
Telefone: (85) 3101-4200
Hospital Geral César Cals (HGCC) – Programa Vitória Régia
Endereço: Avenida do Imperador, 545, Centro – Fortaleza/CE
Telefone: (85) 3101-5404
Hospital Regional Norte (HRN)
Endereço: Avenida John Sanford, 1505 — Sobral/CE
Telefone: (88) 3677-9300