Autoexame pode induzir ao erro: a importância da mamografia no diagnóstico precoce do câncer de mama

11 de junho de 2025 - 12:23 # # # # #

Assessoria de Comunicação do Instituto de Prevenção do Câncer do Ceará (IPC)
Texto e fotos: Thiago Andrade

Exame de mamografia encontrou nódulo na mama esquerda de Raquel três anos antes de ela o perceber por meio do toque (Foto: Thiago Andrade)

Raquel Faustino, 46, descobriu uma alteração na mama esquerda em 2023. Atribuiu o incômodo, de início, ao esforço físico do trabalho que realizava em casa, produzindo manualmente bolos e salgados para encomendas. Ao procurar um posto de saúde, foi encaminhada ao Instituto de Prevenção do Câncer (IPC), unidade da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa).

Raquel conta que, na verdade, aquela alteração na mama não era inteiramente uma surpresa: três anos antes, um exame de mamografia já havia detectado um nódulo na mesma região. A situação pedia cautela, mas nenhuma intervenção era necessária naquele momento. “Fui orientada a ficar fazendo acompanhamento. Não era nada preocupante ali na hora”, comenta.

No entanto, eventos ligados à pandemia dificultaram o monitoramento do nódulo e a busca por ajuda médica só veio a partir do incômodo com o tamanho que ele atingiu três anos depois. “Quando eu vi, já dava para apalpar. Era quase do tamanho de um limão”, descreve.

Raquel realizou a cirurgia de câncer de mama em setembro de 2024 e segue com os exames de rotina. Seu otimismo se alia a muito trabalho e atenção com a saúde: “Com a fisioterapia, recuperei bem os movimentos do braço. Sigo fazendo minhas caminhadas e já até fui liberada para fazer outros tipos de exercícios físicos. A cabeça, eu vou ocupando com cursos: fiz de corte e costura, de pizzaiolo e de pães artesanais. Tenho o apoio do meu marido e de toda minha família, além da oração de todo mundo que sabe da minha história. Não tenho por que relaxar com minha saúde”, anuncia.

Mamografia e diagnóstico precoce

A história de Raquel evidencia alguns fatos já bem conhecidos quando o assunto é mama: a velocidade de crescimento de alguns tipos de câncer e a capacidade do exame de mamografia em “se antecipar” ao diagnóstico da doença — o chamado diagnóstico precoce.

“A mamografia permite o diagnóstico precoce, que é essa descoberta da doença ainda em seus estágios iniciais, o que geralmente leva a um tratamento com melhores chances de cura”, afirma a mastologista do Instituto de Prevenção do Câncer do Ceará (IPC), Mariane Menezes.

“No caso do câncer de mama, estudos mostram que o diagnóstico precoce permite um tratamento com quase 95% de chances de sucesso”, complementa.

Segundo o Ministério da Saúde, a recomendação é de que a partir dos 40 anos, as mulheres devem realizar exame clínico das mamas anualmente. A mamografia de rastreamento, por sua vez, é recomendada a partir dos 50 anos e deve ser realizada a cada dois anos, mesmo que não haja nenhum sinal ou sintoma.

Incluem-se também nessa recomendação os homens trans e as pessoas não-binárias assinaladas no feminino ao nascer que mantêm as mamas.

Autoexame pode induzir ao erro

Ao ressaltar a eficiência da mamografia para o diagnóstico precoce do câncer de mama, a médica do IPC a compara ao autoexame, prática de observação e de toque das mamas e das axilas feita pela própria paciente: “Quando um nódulo na mama é percebido pelo autoexame, ele já tem pelo menos um centímetro, não está em uma fase tão inicial assim. Um exame de imagem, como a mamografia, teria percebido a mesma alteração bem antes”.

Além de uma detecção mais tardia, o autoexame pode também levar a paciente a conclusões precipitadas quanto ao diagnóstico, causando ansiedade e a realização de mais exames que o necessário, ou mesmo à falsa sensação de segurança, quando nada for encontrado pelo toque.

O autoexame não substitui o exame clínico feito pelo profissional, muito menos substitui a mamografia. Existem alterações normais da mama que podem ser confundidas com um nódulo que precisa de acompanhamento. Ou, o que é mais preocupante, pode existir um câncer que ainda não pode ser apalpado, mas poderia ser identificado por meio da mamografia”, explica Mariane.

Então, toda vez que um nódulo é percebido por meio do autoexame quer dizer que é tarde demais? Mariane enfatiza que não: “Atualmente a mortalidade pelo câncer de mama é bem baixa. Há muitos avanços médicos e tecnológicos que diminuem esse índice”, explica a mastologista. “Descobrir a doença mais cedo, no entanto, é muito vantajoso. Além de aumentar as chances de cura, pode possibilitar também que não se recorra a tratamentos agressivos como a retirada das mamas ou a quimioterapia”.

Ainda se deve fazer o autoexame?

“Em muitos lugares ainda existem vários tabus, várias proibições contra o corpo da mulher. O autoexame é uma forma de a mulher se conhecer melhor”, afirma a mastologista Mariane Menezes. (Foto: Thiago Andrade)

Diante das evidências que questionam a eficácia do procedimento, fica a pergunta: ainda se deve fazer o autoexame? A médica mastologista do Instituto de Prevenção do Câncer do Ceará (IPC), Mariane Menezes, explica que sim. Mas não para diagnosticar o câncer de mama em estágio inicial.

“Infelizmente, em muitos lugares ainda existem vários tabus, várias proibições contra o corpo da mulher. O autoexame se torna, então, uma forma de a mulher se conhecer melhor. Para que ela perceba as alterações do próprio corpo, perceber se apareceu algum carocinho, se está saindo algum líquido pelo bico do peito, se a pele ficou mais grossa, mais vermelha, se o mamilo entrou. E, claro, ela deve procurar o profissional de saúde caso alterações assim sejam percebidas”, recomenda a mastologista.

Levando em conta todas essas questões, o Instituto Nacional de Câncer (Inca) simplifica o que se entende por autoexame: “a orientação é que a mulher observe e apalpe a mamas sempre que se sentir confortável para tal (seja no banho, no momento da troca de roupa ou em outra situação do cotidiano), sem necessidade de aprender uma técnica de seguir uma periodicidade regular e fixa, valorizando a descoberta casual de pequenas alterações mamárias suspeitas”, conforme consta em texto disponível no site do instituto.

“Esse é o sentido. Não há expressamente uma contraindicação. Mas ela nunca deverá substituir a mamografia nem o exame físico da mama feito por um profissional de saúde”, resume a profissional do IPC.