Hospital São José ressignifica vida de pacientes com HIV, por meio de atendimento psicológico
30 de agosto de 2024 - 16:21 #HIV #HSJ #protagonismo #Psicologia #qualidade de vida
Assessoria de Comunicação do HSJ
Texto e fotos: Bárbara Danthéias
Ambulatório de Psicologia do HSJ atende mais de 200 pacientes por mês; serviço tem foco na promoção do bem-estar emocional dos pacientes
Mesmo após mais de 40 anos do surgimento do HIV e da evolução dos tratamentos disponíveis, o recebimento do diagnóstico da infecção pelo vírus da imunodeficiência humana ainda é permeado pelo medo do preconceito e dos estigmas associados à doença. No Hospital São José (HSJ), unidade da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) referência no tratamento de doenças infectocontagiosas, a Psicologia exerce um papel essencial ao se voltar para os aspectos sociais, emocionais e psicológicos que envolvem a vida de um paciente com HIV.
“O sucesso no tratamento costuma estar associado à questão de ficar indetectável. Para a Psicologia, esse sucesso está para além disso. É quando o paciente consegue ter qualidade de vida e qualidade nas suas relações, vida sexual ativa como tinha antes e trabalho decente”, destaca Niveamara Sidrac, coordenadora do Núcleo de Psicologia do HSJ. A equipe conta com cinco psicólogas e três residentes, que atuam no ambulatório, nas unidades de internação e no Serviço Especializado de Cuidados Paliativos (SECP).
Esse sucesso no tratamento preconizado pela Psicologia foi alcançado por Fernanda [nome fictício], 32 anos, que buscou o atendimento psicológico no HSJ logo após receber o diagnóstico da infecção pelo HIV em 2019, cinco anos atrás. O início, porém, não foi nada fácil: ela decidiu fazer o teste após descobrir que seu ex-marido — de quem ela já estava separada há nove meses — vivia com o vírus.
“Foi um baque muito grande. Eu fiquei sem chão, com medo da reação da minha família, eu tenho um filho pequeno, fiquei pensando se ele tinha pegado. Fiquei pensando até em como seria para ir à manicure. Na época, eu pensei em fazer um curso, e isso me travou também. Passou muita coisa pela minha cabeça”, compartilha.
Impacto do diagnóstico na saúde mental
Para Simone Santos, psicóloga dos Cuidados Paliativos do HSJ, o diagnóstico de uma doença infectocontagiosa vem carregado de um sofrimento muito ligado ao segredo e à vergonha, algo que não é comum às demais doenças.
“Existe uma coisa muito delicada no HIV e demais doenças infectocontagiosas que é a ligação com o segredo, e sustentar esse segredo traz muito sofrimento aos pacientes. Essa é a visão que eu tenho das doenças infecciosas: você ter condições psíquicas de guardar esse segredo”, avalia. E acrescenta: “a revelação de um diagnóstico revela toda a vida de uma pessoa, no imaginário dela e do outro, porque eu sou classificada por isso, pelos meus atos e por tudo o que eu faço”.
Apoio psicológico após diagnóstico de HIV é um dos fatores que contribuem para a adesão ao tratamento
A manutenção desse segredo foi, inclusive, ameaçado por chantagens do ex-marido de Fernanda. “Além do resultado, eu ainda tive que procurar ajuda devido às chantagens dele. As primeiras vezes que fui à psicóloga, eu chorava muito e não trabalhava direito. Na primeira vez, foi difícil para mim, mas foi o que me ajudou: a psicologia. Hoje eu estou 100%”, conta.
Hoje, o êxito do tratamento se reflete no seu relacionamento atual. Fernanda está com uma nova pessoa, com quem se relaciona há um ano e cinco meses. “Quando recebeu a notícia, ele ficou calado e surpreso, mas me abraçou. Eu disse que estava preparada para o que ele decidisse, só pedi para que, antes de me julgar, ele pesquisasse sobre a doença. Eu mostrei o meu laudo a ele, de que eu estou indetectável, e ele disse: ‘não, esqueça isso’. E pronto, a gente vive normal”, compartilha.
Niveamara Sidrac reforça a necessidade de direcionar o olhar para além da doença, ressaltando que o cuidado com a saúde emocional e mental também contribui para a adesão ao tratamento. “O HIV precisa parar de ser o protagonista. Quem tem que ser protagonista é a pessoa que vive com HIV, e essa pessoa tem um contexto de vida e uma rede de apoio que precisa ser acionada para ajudar”, frisa.
Serviço
O Ambulatório de Psicologia do HSJ funciona às segundas, quartas e sextas-feiras, das 8h às 16h; às quintas, das 7h às 19h; e às sextas, das 7h às 13h. São atendidas, em média, 220 pacientes por mês. O serviço é direcionado aos pacientes que fazem tratamento de saúde na unidade e funciona sob livre-demanda ou via encaminhamento médico.