Especialista dá dicas sobre prevenção ao câncer de próstata; confira entrevista
16 de novembro de 2023 - 14:17 #câncer de próstata #entrevista #Helv #novembro azul #prevenção
Assessoria de Comunicação do Hospital Estadual Leonardo Da Vinci
Entrevista e foto: Isabelle Azevedo
Arte Gráfica: Juliel Veras
Coordenadora médica do serviço de urologia do Hospital Estadual Leonardo Da Vinci (Helv), Nathálya Gonçalves, dá dicas sobre prevenção ao câncer de próstata
O Novembro Azul é o mês dedicado à prevenção do câncer de próstata, tipo de câncer mais frequente em homens no Brasil, depois do câncer de pele. Embora seja uma doença comum, por medo, tabu moral ou por desconhecimento, muitos homens preferem não conversar sobre esse assunto.
Para falar sobre o tema, entrevistamos a coordenadora médica do serviço de urologia do Hospital Estadual Leonardo Da Vinci (Helv), Nathálya Gonçalves. A urologista alerta que não apenas homens idosos, mas também os jovens precisam buscar mais o urologista, como forma preventiva: “Existem outras questões a serem investigadas no urologista, como infecções sexualmente transmissíveis, problemas urinários, problemas como cálculo renal, presença de doença em outros órgãos do sistema urinário”, afirma.
Confira a entrevista:
O que é a próstata e qual é a função dela no corpo masculino?
Nathálya Gonçalves: A próstata faz parte do sistema reprodutor masculino. Faz parte da liquefação do sêmen e da nutrição do sêmen. Através dela, saem os ductos ejaculatórios e também passa uma porção da uretra. Então, por isso que observamos que os pacientes mais idosos podem passar a ter sintomas urinários.
O que é o câncer de próstata? Qual a incidência dele?
N.G: O câncer de próstata é o segundo câncer mais comum no homem, ficando em segundo lugar, perdendo apenas para o de pele e também é o segundo câncer que mais mata o homem, perdendo apenas para o de pulmão. Sua prevalência aumenta com a idade. Sabe-se que um a cada sete homens pode chegar a ter esse diagnóstico ao longo da vida. A formação do câncer de próstata acontece a partir de uma anomalia nas células da próstata, na qual ela perde a sua arquitetura original. As células começam a se multiplicar desordenadamente, permitindo a formação do tumor.
Quais os sinais e sintomas desse tipo de câncer?
N.G: Inicialmente, o homem não vai apresentar nenhum sintoma. Por isso, é tão importante a conscientização para realizar o rastreio da doença. Além disso, os sintomas que podem vir a surgir são semelhantes aos da doença prostática benigna, que está muito relacionada aos sintomas urinários, como um jato urinário fraco, uma dificuldade de iniciar o jato urinário, acordar à noite para urinar, a sensação de urgência – que significa uma vontade e uma necessidade de ir ao banheiro de forma muito rápida – presença de sangue na urina, presença de sangue no esperma. São todos sintomas que podem estar presentes na doença benigna, mas que em fases avançadas do câncer de próstata também podem aparecer, por isso é tão importante a conscientização para o rastreio.
Em casos mais avançados da doença, não diagnosticadas no tempo correto, os pacientes podem vir a apresentar dores ósseas, dores no quadril e na coluna. Então, é importante reforçar a necessidade do rastreio.
Quais os principais fatores de risco para o desenvolvimento desse câncer?
N.G: O principal fator de risco é o envelhecimento. Não tem como lutar contra isso, faz parte do envelhecimento do homem. Além desse risco, existe a questão da hereditariedade. A história familiar é muito presente como fator de risco. Sabemos ainda que os pacientes de etnia negra também têm uma incidência maior de câncer de próstata. Além disso, obesidade, dieta inadequada, tabagismo, também entram como fatores de risco para desenvolver a doença.
Como prevenir?
N.G: Não existe, para o câncer de próstata, uma prevenção primária propriamente dita. O que orientamos é que os pacientes mantenham o hábito de vida saudável, porque já se sabe que a obesidade, uma dieta inadequada, pode predispor tanto ao câncer de próstata quanto aos diversos outros tipos de câncer. Então, ter hábitos de vida saudável, alimentação adequada, sem muitas gorduras, sem carne vermelha em excesso, isso ajuda na prevenção. Mas além disso, o que a gente considera como uma prevenção secundária e que é essencial é realizar rastreio do câncer de próstata.
Quando deve ser realizado o rastreio do câncer de próstata?
N.G: Deve ser realizado nos pacientes com 50 anos, quando não tiverem história na família ou quando não forem de etnia negra. A partir dos 45 anos, é indicado para aqueles pacientes com história na família de câncer de próstata e em homens de etnia negra. Deve-se iniciar o PSA, que é um exame colhido no sangue, e o toque retal, que é realizado no consultório com o urologista. Esses exames são complementares. Eles devem ser feitos em conjunto, pois até 20% dos cânceres de próstata podem vir com o PSA normal, então o toque retal não pode ser excluído. Fazendo os dois exames, o toque retal e o PSA, reduzimos uma falha de diagnóstico.
Alguns sintomas são muito comuns com os da doença benigna, então a diferenciação é feita apenas com rastreio. A doença benigna geralmente não leva a um aumento importante do PSA e no toque retal é onde a gente vê a doença. Percebemos a próstata aumentada, mas não tem nenhum caroço ou nenhum nódulo. Então, por isso é importante o rastreio, porque é a única forma de diferenciar da doença benigna. Se houver uma suspeita, uma elevação importante do PSA, ou se for percebido no toque uma presença de nódulo, aí a gente precisa aprofundar a investigação, fazer ressonância ou fazer biópsia, caso necessário.
Por que os homens ainda têm tanto preconceito com o exame de toque retal?
N.G: O toque retal é um exame rápido, um exame simples. Nós, urologistas, sabemos que existe um tabu ainda muito grande relacionado ao exame, tanto em relação ao machismo, como alguns pacientes eles mesmo têm medo de descobrir alguma coisa, ou de sentir dor. Então, afirmamos que é um exame indolor, é um exame rápido, que pode realmente mudar muito no nosso diagnóstico, na prevenção da doença.
Além disso, reforçamos o incentivo dos homens procurarem o cuidado à saúde. Sabemos que é cultural, que o homem desde sempre não tem esse hábito de cuidar da saúde em geral, por vários sentidos, por descuido, por machismo, pela síndrome do super-herói, de achar que ele não pode se ausentar da casa para cuidar da sua saúde, então é importante reforçar essa necessidade do cuidado.
No Hospital Estadual Leonardo Da Vinci, onde a senhora atua, são tratadas muitas doenças benignas da próstata. Quais são essas doenças e o que leva elas à questão operatória?
N.G: Aqui, no caso da próstata, operamos o aumento prostático benigno, que também faz parte do envelhecimento do homem. Naturalmente, o homem vai evoluir com o crescimento da próstata e muitas vezes esse crescimento leva a sintomas urinários, que algumas vezes não respondem só com medicação e precisamos operar para melhorar a qualidade de vida do paciente. Aqui é feito tanto a cirurgia de raspagem da próstata como a cirurgia que retira. Uma parte da próstata para que o paciente possa urinar melhor. Além disso, tratamos tanto homem quanto mulheres para os cálculos renais, pedra no rim, pedra na bexiga, pedra no ureter. Então, conseguimos tratar essa outra demanda urológica aqui no hospital.
Como o novembro azul, além da prevenção ao câncer de próstata, dedica-se à saúde do homem?
N.G: Essa campanha é muito importante para pensarmos justamente dessa forma: além do câncer de próstata, precisamos levar o homem mais ao urologista. Até existem algumas campanhas, como a que chamam de “Vem para o Uro”, porque justamente como já falado, o homem não tem esse hábito de procurar o médico, tanto que a gente sempre vê que ele geralmente vem acompanhado ou da filha ou da esposa. É uma busca ativa que não parte do homem, então a campanha Novembro Azul é importante para incentivar o homem a buscar o médico e lembrar que além da próstata, existem outras questões a serem investigadas no urologista, como infecções sexualmente transmissíveis, problemas urinários, problemas como cálculo renal, presença de doença em outros órgãos do sistema urinário, como bexiga.
Cuidar da saúde do homem também como um todo, como observar taxas de colesterol e de glicemia, por exemplo. Eu costumo falar, quando o paciente chega no meu consultório, que geralmente é a oportunidade do homem de ser visto pelo médico, então aproveitar para ter uma visão geral da sua saúde, fazer os exames, colher exames do laboratório em geral e tudo porque a gente sabe que o homem não costuma ir ao médico.
É muito cultural do homem realmente não procurar, por achar que não adoece, que não precisa, então é realmente incentivar a busca da saúde do homem, em geral. Não só os idosos que precisam, porque já começa o rastreio do câncer de próstata, mas também os homens jovens, que é para identificar infecções sexualmente, ou então que tenham alguma dúvida sobre questões sexuais ou queixas urinárias. São muitas questões a serem tratadas no urologista.