Missão compartilhada: pais e filhos alternam papéis e fortalecem laços em unidades da Saúde do Ceará

11 de agosto de 2023 - 16:15 # # # # # # # #

Assessoria de Comunicação do HGWA, HMJMA e CCC
Texto e fotos: Bruno Brandão, Suzana Mont'Alverne e Márcia Catunda

Seu Antônio cuida do filho sozinho desde quando o jovem, hoje com 18 anos, tinha três anos de idade

O amor pelo filho fez com que o agricultor Antônio Saraiva Martins, de 55 anos, ultrapassasse diversas barreiras para cuidar integralmente do filho. O jovem Antônio Saraiva Martins Filho, de 18 anos, diagnosticado com distrofia muscular, encontra-se internado na Unidade de Cuidados Especiais (UCE) do Hospital Geral Dr. Waldemar Alcântara (HGWA), em Fortaleza, da Rede Sesa.

A doença do paciente caracteriza-se como um grupo de doenças genéticas que causam fraqueza progressiva e perda de massa muscular. Não há cura para distrofia muscular, mas os tratamentos podem ajudar a controlar muitos dos sintomas. No caso do jovem, a doença já o impossibilita de caminhar e falar. O pai lembra com saudade da época em que o filho ainda conseguia ter uma vida normal. Ele chegou a frequentar a escola até o 9º ano. Com a descoberta do diagnóstico e o agravamento, seu Antônio teve que se mudar da zona rural para o município de Quixadá, onde se dedica, junto com o apoio das três filhas, a cuidar do jovem.

“Eu lembro dele alegre, eu o levava para a escola. Ele estudou até o 9º, é muito inteligente, ficava sempre na cadeira de balanço, com o celular, assistindo televisão. Com o agravo da doença, ele não consegue mais esticar a perna, comer sozinho. Recordo dele conversando muito comigo. Hoje nos comunicamos com os olhos, ele sorri, eu ligo para as irmãs deles e eles se veem pelo celular”, afirma.

Seu Antônio cuida do menino sozinho desde que se separou, quando o filho ainda tinha três anos. “Começou com dificuldades de andar aos três anos, de ficar em pé. E aos 9 anos ele parou de andar. Aos 10 anos ele foi diagnosticado com a distrofia muscular. Cuido dele em casa, mas sempre que ele piora precisamos ir para o hospital”, conta.

Emocionado, seu Antônio revela o que seria o seu melhor presente de Dia dos Pais, exaltando o sentimento de ser pai de quatro filhos: “A gente faz o que Deus permite, que é ficar perto dele e continuar. Meu sonho é que ele fosse para casa e ficasse curado. Eu sinto muito amor pelos meus filhos e sinto o amor deles por mim, criei todos com muito amor e orgulho”, finaliza com os olhos marejados.

Filho inverte papéis e se torna cuidador do pai

“Feliz do filho que tem um pai para cuidar”, atesta Francisco Gerlan Pereira, 42 anos, que acompanha o pai, Joanes Laurentino Ferreira, de 64 anos, em todas as consultas médicas desde 2010, período em que o patriarca sofreu um Acidente Vascular Cerebral (AVC).

Gerlan conta que foi um período delicado para todos, mas que sentiu a força da relação dos dois quando foi confiada a ele a missão de levá-lo ao hospital. “Aquela ligação na madrugada foi assustadora e, ao mesmo tempo, reconfortante, pois soube ali que meu pai sabia que podia contar comigo”, diz.

Os dois sempre tiveram uma relação baseada em respeito e afeto. Para o filho, acompanhar o pai é retribuir e reforçar o pilar dessa história. “Sou grato à educação que nós tivemos. E acredito que posso também falar pelo meu irmão, nesse sentido. Cuidar é retribuir o que recebemos, é afeto”.

Seu Joanes faz série de tratamentos no HMJMA

Seu Joanes está, agora, fazendo uma série de exames, incluindo o eletrocardiograma, realizado no Centro de Imagens do Hospital e Maternidade José Martiniano de Alencar (HMJMA), unidade da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), pois passará, em breve, por uma cirurgia para a retirada de pedras na vesícula.

“Ter a companhia dele me conforta. O apoio dos meus filhos e da minha família é fundamental”, fala emocionado. Seu Joanes conta ainda que por muitas vezes foi rígido com o filho. “Tomou muita dura, mas hoje está aqui comigo. Acho que hoje ele compreende os meus motivos”, conclui.

A fórmula da educação vem de outra geração. “Meu pai foi meu professor. Com ele aprendi a ter coragem, força de vontade pra vencer na vida, e meus filhos têm essa base”, finaliza.

Padastro e filho fortalecem laços em rotina de cuidados

José Estelito perdeu o pai biológico na adolescência, mas ganhou uma nova família quando a mãe casou novamente, quando ele tinha 23 anos. Além de outro pai, ele ganhou novos irmãos. A relação com o padastro Antônio Soares sempre foi harmoniosa e baseada no respeito e na confiança. “Nossa relação é muito próxima, inclusive já trabalhamos juntos na construção civil”, explica o filho.

A rotina mudou quando Soares, de quase 80 anos, precisou ser hospitalizado com sequelas de pneumonia. Ele também sofre de Alzheimer. Após a saída do hospital, Soares foi transferido para a Casa de Cuidados do Ceará (CCC), unidade estadual de saúde que atua com pacientes sequelados ou cronicamente dependentes.

Com a morte do pai biológico, José reviveu o amor paterno com Antônio

“Isso aconteceu bem na época em que fiquei desempregado, foi muito difícil. Porém, por ter o tempo mais livre devido a essa situação, negociamos em família para eu ser cuidador. Além do fato de sempre termos tido essa boa relação”, pontua Estelito. “Aqui [na CCC] é maravilhoso porque tem todos os equipamentos que ele precisa sem custo, além dos profissionais de saúde”, acrescenta.

A rotina começa cedo, às cinco horas da manhã, e envolve banho, troca de fraldas, auxílio na alimentação via sonda e na administração de medicamentos, sempre com a supervisão e auxílio da equipe multidisciplinar. “Minha mãe também vem visitá-lo, mas não com tanta frequência porque ela também é idosa. Alguns dos filhos que trabalham costumam vir aos finais de semana”, ressalta.

Além do uso de sondas, Antônio também utiliza cadeira de rodas. Os passeios ao ar livre deram lugar aos passeios pelos arredores do equipamento de saúde. “Devido ao Alzheimer, ele não me reconhece mais, mas as lembranças continuam vivas em mim”, diz o filho que, além do amor, conheceu a paciência e a compreensão, em uma relação que transborda os laços consanguíneos.

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