Ambulatório de Tuberculose do HSJ completa 20 anos; serviço é referência para pessoas com coinfecção por HIV

23 de março de 2023 - 12:14 # # # # #

Assessoria de Comunicação do HSJ
Texto: Bárbara Danthéias
Fotos: Diego Sombra e Divulgação/HSJ


Serviço possui equipe multidisciplinar e atende, em média, 120 pacientes por mês

Francisca (nome fictício), paciente com HIV e cardiopatia, foi diagnosticada com tuberculose em dezembro de 2022. Ela teve complicações no quadro cardíaco em razão da doença e, atualmente, é acompanhada pela equipe multidisciplinar do Ambulatório de Tuberculose do Hospital São José (HSJ), vinculado à Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa).

“É um hospital de referência; os médicos são profissionais e fazem tudo para o paciente melhorar, para ter consciência de que não pode abandonar o tratamento, porque, se abandonar, a recaída é pior. No meu ponto de vista, ele é um hospital muito bom, muito excelente. Só em ele dar o remédio, que é caríssimo, já é uma grande chance”, afirma Francisca.

Criado há 20 anos, o serviço acolhe pessoas com HIV e coinfecção por tuberculose (TB). São atendidas, em média, 120 pacientes por mês. O ambulatório possui equipe de três médicos residentes, além de enfermeira, psicóloga e assistente social.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 10,6 milhões de pessoas ficaram doentes por tuberculose em 2021, indicando um aumento de 4,5% em relação a 2020. Além disso, 1,6 milhão de pessoas morreram de TB – destas, 187 mil viviam com HIV.

“Todo paciente com HIV, independentemente do CD4 (células do sistema imunológico e o principal alvo do vírus), já tem o risco aumentado para ter tuberculose. Lógico que aquele paciente extremamente imunossuprimido, com quadro de aids (estágio avançado da infecção pelo vírus), tem um risco muito maior”, explica a infectologista Liliane Granjeiro, médica do Ambulatório de Tuberculose do HSJ.

Assistência farmacêutica

Uma ferramenta importante para o acompanhamento da TB é o Sistema de Informação de Tratamentos Especiais da Tuberculose (SITETB), no qual são notificados casos da doença com indicação de assistência alternativa, fora do esquema básico medicamentoso. O HSJ e o Hospital de Messejana Dr. Carlos Alberto Studart Gomes (HM) integram esse sistema, cujo funcionamento é semelhante a um prontuário dos pacientes.


Farmácia do HSJ é responsável por cadastrar os pacientes no sistema, acompanhar a gestão de medicamentos e registrar as evoluções clínicas

De acordo com Gardênia Monteiro, farmacêutica hospitalar do HSJ, se o paciente interromper o uso da medicação por um período inferior a 30 dias, a equipe entra em contato para pedir que ele remarque a consulta médica e, assim, possa fazer a manutenção da terapia. “A gente procura fazer com que o paciente não se perca do seu seguimento, para que não seja preciso reiniciar o tratamento”, explica.

Criação do ambulatório

O Ambulatório da Tuberculose surgiu em 2003, em um contexto de alta dos casos de aids e tuberculose. Até então, o HSJ não contava com um serviço específico para TB, e os pacientes com coinfecção HIV/TB eram acompanhados no ambulatório HIV/aids com consultas semestrais.


Com a criação do ambulatório, houve elevação das taxas de cura e redução nos índices de mortalidade por tuberculose; na imagem, registrada em 2005, está parte da equipe do serviço

Roberto da Justa, médico infectologista e um dos responsáveis por estruturar o Ambulatório de Tuberculose do Hospital São José, destaca que a implantação do serviço não foi um processo fácil. Após muita análise, ele identificou a sexta-feira pela manhã como o dia e o horário mais adequados para atender os pacientes.

O médico, então, removeu outros ambulatórios do espaço para destinar todo o bloco para tuberculose. “Eu não poderia passar a atender um paciente com doença que ficava na sala de espera com outros sem tuberculose. A gente teve essa preocupação”, frisa.


Interesse dos residentes pela pesquisa sobre tuberculose cresceu após a criação do ambulatório, relata Justa

A criação do Ambulatório de Tuberculose resultou em melhoras expressivas dos indicadores da doença. Antes do serviço, conforme o infectologista, a taxa de cura era de menos de 50%. Já nos primeiros anos de assistência, essa taxa subiu para 70%. Houve, ainda, redução nos índices de mortalidade, abandono do tratamento e internamentos.

“Fico feliz porque a gente conseguiu impactar a vida da população: conseguimos evitar mortes, curar mais pacientes, contribuir um pouco para a diminuição do preconceito e do estigma com relação à tuberculose. Ainda hoje, lutar com tuberculose é para poucos. É uma doença ainda muito estigmatizada, pouco valorizada e há muito pouco interesse, de maneira geral, por parte dos profissionais da Saúde em acompanhar pessoas com esse diagnóstico”, avalia Justa.

II Oficina sobre Tuberculose do HSJ

Na data em que se celebra o Dia Mundial de Combate à Tuberculose, nesta sexta-feira (24), o Hospital São José promove, das 8h às 12h, a II Oficina sobre Tuberculose da instituição.

O evento abordará a detecção da doença em pessoas vivendo com HIV/aids, perspectivas de tratamento, indicadores e fluxos de atendimento no HSJ e no HM, unidades de referência na assistência a pacientes com tuberculose no Ceará. A iniciativa tem apoio do Comitê Estadual de Tuberculose e também celebrará os 20 anos de funcionamento do ambulatório especializado.