Da captação à alimentação dos bebês: entenda o processo de pasteurização e controle de qualidade do leite materno

31 de março de 2021 - 09:01

Assessoria de Comunicação do HGF
Texto e fotos:
Felipe Martins



Doadoras recebem kit com frasco, copo, gorro e etiqueta esterelizados para reduzir risco de contaminação

“Muitas pessoas pensam que a gente mistura o leite recebido em uma panela bem grande, ferve e dá em copinhos para as crianças”, brinca Eveline Costa, enfermeira do Banco de Leite Humano (BLH) do Hospital Geral de Fortaleza (HGF), unidade da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), do Governo do Estado. A profissional, que compõe a equipe responsável por todo o processo de recepção, análise, pasteurização, classificação e distribuição do leite humano doado, garante: os protocolos são muito rigorosos.

O primeiro passo do processo é a coleta do leite humano. De segunda a sexta-feira, um motorista da unidade recolhe nas casas das mães doadoras o líquido congelado que vem a ser o alimento primordial de grande parte dos bebês internados. “Quando o motorista vai buscar o leite da mãe cadastrada, ela recebe um kit composto por frasco, copo, gorro e etiqueta. Tudo esterilizado para diminuir o risco de contaminação”, ressalta a enfermeira do BLH do HGF, Ana Márcia Bustamante. Ao chegar à unidade, o frasco de leite doado é higienizado e estocado a baixas temperaturas até o início do processo de análise.

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O próximo passo é a detecção de sujidades. Sempre de forma individual, o recipiente é posto em uma máquina que verifica a existência de corpos estranhos no leite. “Pode ser um grão de areia ou um fio de cabelo. Se for detectado, o leite precisa ser desprezado”, esclarece a nutricionista e responsável pelo controle de qualidade do BLH do HGF, Leyshir de Carvalho. Ao ser aprovado na primeira fase do processo, o leite é levado para outro equipamento, que mede o nível de acidez do líquido. “Um leite com a acidez acima do limite aceitável pode estar contaminado, por isso precisa ser descartado”, reforça a nutricionista.

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Após ser aprovado neste teste, o leite é envasado em um recipiente estéril e de volume determinado para dar início à pasteurização. Neste momento, o líquido é aquecido a 62,5°C durante 30 minutos e, logo em seguida, resfriado. Ao finalizar essa etapa, a equipe recolhe uma amostra do leite para realização de exame microbiológico. “É mais uma garantia de que o leite estará realmente livre de microorganismos”, afirma Leyshir. Após a realização do teste, o leite é congelado e fica estocado até a liberação do resultado.

Classificação do leite para dieta

Além dos processos de controle de qualidade, a equipe do Banco de Leite Humano do HGF também fica responsável por outra análise importante: o exame crematócrito, que detecta o valor calórico do leite humano pasteurizado. “Todas essas informações ficam na etiqueta e nos auxiliam a liberar o leite ideal para cada prescrição nutricional”, pontua a nutricionista. “Bebês cuja prioridade é ganhar peso, por exemplo, recebem prescrição para um leite um pouco mais calórico”, explica.


Frascos de leite doado são higienizados e estocados a baixas temperaturas até o início do processo de análise

Baixa do estoque

Com a diminuição dos atendimentos presenciais, por causa da pandemia de Covid-19, o Banco de Leite do HGF tem tido dificuldade em captar novas doações para suprir a demanda interna. “Quando tínhamos o acolhimento de mães em grupo na unidade, conseguíamos muitas doações”, lembra a enfermeira Ana Márcia. “Porque além de elas estarem gratas pelas orientações, a gente tinha como explicar de forma mais efetiva a importância da doação. Elas topavam na hora”.


Com diminuição dos atendimentos presenciais devido à pandemia de Covid-19, o Banco de Leite do HGF tem tido dificuldade em captar novas doações para suprir a demanda interna

O leite humano recebido das doações é a principal fonte de alimentação dos bebês da Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN) do HGF. “Sempre que ficamos com baixo estoque de leite é um momento de muita angustia”, compartilha a médica e coordenadora da UTIN da unidade, Fabíola Arraes. “Principalmente no caso de bebês muito prematuros, que vão passar um período muito longo no hospital. É importante que a gente dê apenas leite humano, que, além de favorecer o desenvolvimento adequado, protege contra infecções do trato intestinal”, acrescenta.

Doar é simples e salva vidas

O cadastro de novas doadoras para o Banco de Leite Humano do HGF é realizado por telefone (85 3101 3335). Ao receber a ligação com o desejo da mãe em doar, a equipe realiza uma pequena entrevista e solicita exames realizados durante o pré-natal. Todo o procedimento é realizado à distância, de forma segura. Com o processo encaminhado, a doadora é avisada sobre o recebimento do kit em casa e o dia da coleta.


“A gente entende que, muitas vezes, é difícil estar cuidando de um recém-nascido, adaptando-se a uma nova rotina e ainda se dispor a doar. Então vemos isso como um ato de doação não apenas de leite, mas de amor”, pontua a enfermeira Ana Márcia.