Oficina capacita profissionais no manejo obstétrico da hemorragia

21 de março de 2018 - 12:25 # # # # #

Assessoria de Comunicação da Sesa - Cristiane Bonfim/ Marcus Sá / Helga Rackel / (85) 3101.5221 / 3101.5220

Cinquenta médicos e enfermeiros obstetras de unidades de saúde e do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU Fortaleza e SAMU 192 Ceará) da Macrorregião de Saúde de Fortaleza participam nesta quinta-feira, 22 de março, da Oficina de Atualização do Manejo Obstétrico da Hemorragia Pós-Parto e Pós-Abortamento, a partir das 13 horas, no Hotel Plaza Praia Suítes, em Fortaleza. A oficina realizada pela Secretaria da Saúde do Estado, através do Núcleo de Saúde da Mulher, Adolescente e Criança (Nusmac), da Coordenadoria de Políticas e Atenção à Saúde (Copas), faz parte do Projeto Zero Morte Materna por Hemorragias, da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) e Organização Mundial da Saúde (OMS), em parceria com o Ministério da Saúde, para a redução da morbidade e mortalidade maternal.

Além do manejo da hemorragia obstétrica, os profissionais de saúde serão capacitados também no funcionamento e uso do traje antichoque não pneumático (TAN). Após a oficina serão entregues 16 desses trajes para maternidades da Macrorregião de Saúde. Os participantes serão capacitados para seu correto uso e funcionamento. Os trajes são utilizados para garantir a continuidade do fluxo sanguíneo em órgãos vitais da paciente com hemorragia, como o cérebro, coração e pulmão, até que ela seja transferida para um local que possa prestar a assistência necessária ou para que sejam adotadas outras medidas na própria unidade de saúde em que ela estiver. O traje faz a compressão da pelve e de membros inferiores do corpo.

A Oficina de Manejo Obstétrico da Hemorragia Pós-Parto e Pós-Abortamento já teve duas edições para capacitação de profissionais de saúde das macrorregiões de Saúde de Fortaleza, Sertão Central e Litoral Leste. Na oficina são abordados temas como manejo ativo do terceiro período do trabalho de parto, manejo da hemorragia pós-parto, código vermelho obstétrico, manejo da mulher em situação de “near miss” (quase perda) com hemorragia obstétrica. A finalidade é estruturar o processo de qualificação e atenção às situações de morbimortalidade em mulheres com hemorragia pós-parto, principalmente em áreas remotas e de pouco acesso às tecnologias de cuidado. Ainda este ano acontecerão as oficinas nas macrorregiões de Saúde de Sobral e do Cariri.

Junto com a hipertensão, a hemorragia figurou como principal causa de morte materna no Ceará em 2016, de acordo com o boletim de mortalidade materna divulgado em abril do ano passado pela Secretaria da Saúde do Estado. Do total de 44 óbitos maternos por causas obstétricas diretas registrados naquele ano, entre aborto, complicação no parto, embolia, hipertensão, inércia uterina, infecções puerperal, 18,2% foram por hemorragia.

Relato OPAS

Em Fortaleza, Valeska Nunes da Silva, na época com 22 anos, por pouco não perdeu a vida ao dar à luz. A jovem, que teve sua primeira filha no dia 22 de janeiro do ano passado, apresentou hipertensão na gravidez e hemorragia no pós-parto. O quadro se agravou tanto que Valeska acabou entrando em coma.

“Eu estava muito inchada, me sentindo mal e fui ao posto. Aí disseram que minha pressão estava a 18 por 8 e decidiram me encaminhar para a internação”, conta. Durante uma semana, Valeska ficou em observação, sendo medicada para controlar a pressão e agilizar o amadurecimento dos pulmões da bebê Ana Heloísa, que tinha probabilidade de nascer prematura. No dia do parto, Valeska começou a passar mal após a medicação e foi levada às pressas para o centro obstétrico, onde a submeteram a uma cesariana de emergência. Ana Heloísa nasceu bem, mas a mãe não melhorava.

Foi aí que a médica obstetra Soraya de Medeiros, instrutora do Zero Morte Materna por Hemorragia, recebeu uma mensagem no celular sobre o caso de Valeska. A profissional, que havia participado de uma das primeiras oficinas da estratégia, é médica do Hospital Geral de Fortaleza, onde a jovem estava internada. Naquele dia, ela não estava trabalhando, mas decidiu responder à mensagem enviada em um grupo de médicos locais pelo aplicativo WhastApp. “O que eu aprendi na estratégia foi muito importante. Eu respondi dizendo que achava que ela precisava ser submetida a outra abordagem e me dirigi até o hospital. Utilizei as técnicas que aprendi na oficina e chegamos à conclusão de que era necessário o uso do TAN (Traje Anti Choque Não Pneumático) e uma cirurgia para retirada do útero, para tentar salvar a vida dela”.

A mãe de Valeska, Maria Jarlene, acompanhou de perto tudo o que aconteceu com a filha. O parto ocorreu ao redor das oito da noite. Às quatro da madrugada, Maria Jarlene acordou com um telefonema do genro, avisando que Valeska havia ingressado em estado grave na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). “Quando cheguei, ela estava toda entubada. O médico disse que tinha hemorragia, que estava tomando muito sangue por cima, mas perdendo tudo por baixo. E que o único jeito era tirar o útero dela. Eu pedi ao médico que pelo amor de Deus salvasse a vida da minha filha e assinei o papel para fazerem a outra cirurgia”.

Valeska, que já estava em coma profundo, foi submetida a uma histerectomia (retirada do útero) e só começou a reagir uma semana depois, mexendo inicialmente alguns dedos. “Depois, o médico disse para mim que eles quase desligaram os aparelhos, porque ela estava praticamente morta. Eles deixaram mais umas horas para ver se ela ainda ia reagir. Ela passou quase um mês entubada, mas aos poucos foi melhorando. Só depois ela abriu os olhos. Não mexia os braços nem as pernas. Hoje, é um milagre ela estar aqui”, afirma.

Valeska conta que se surpreendeu com o próprio estado de saúde. “Melhor a vida do que um órgão, né? Nem eu sei como é que me salvei de uma situação dessas, porque, do jeito que estava… Eu não andava e não falava e hoje estou bem. Agora eu só espero coisa boa. Cuidar da minha bebê e ver minha filha crescer”, diz.