Michel Odent fala de “coquetel de hormônios do amor” no parto
26 de julho de 2012 - 18:06
Segundo Michel Odent, do ponto de vista fisiológico, o processo de parto e nascimento é involuntário, sob controle de estruturas primitivas do cérebro, comum a todos os mamíferos. Nesse processo, o organismo da mãe libera o que o médico chama de “coquetel de hormônios do amor”. “Não se pode ajudar processos involuntários, mas há aspectos ambientais que podem alterar e inibir esses processos”, ressalva Odent. Por conta desses aspectos, como a presença de muitas pessoas durante o parto, a aplicação de ocitocina sintética, entre outros fatores, os hormônios do amor estão se tornando inúteis e as mulheres estão perdendo a capacidade de dar à luz de forma natural, o que, segundo o obstetra, já se comprova por estudos científicos.
Para contrapor essa tendência, que interfere inclusive no futuro do ser humano, Michel Odent diz que o parto e nascimento devem ser protegidos dos fatores ambientais que possam inibir o processo natural involuntário. “Devemos proteger”, enfatiza. Na contramão do que foi culturalmente condicionado de que a mulher não pode dar à luz sozinha, Odent prega: “Durante o processo do parto, só existem dois atores principais – a mãe e o seu bebê”. Além disso, diz ele, o recém nascido precisa exclusivamente do contato de uma pessoa – a própria mãe. Pelo método que propõe, o parto deve ser acompanhado por apenas uma pessoa, sentada ao lado, em um ambiente aconchegante em que a mãe se sinta segura, sem se sentir observada.
Lançada no ano passado pela presidenta Dilma Rousseff, a estratégia Rede Cegonha fortalece um modelo de atenção que vai do reforço do planejamento familiar à confirmação da gravidez, passando pelo pré-natal, parto, pós-parto até os dois primeiros anos de vida da criança. As ações previstas na estratégia Rede Cegonha visam qualificar, até 2014, toda a rede de assistência, ampliando e melhorando as condições para que as gestantes possam dar à luz e cuidar de seus bebês de forma segura e humanizada.
O Fórum Estadual marcou o início do processo de habilitação dos serviços integrantes das 17 Redes Cegonha no Ceará em 23 municípios do Estado. Em junho, o Ministério da Saúde aprovou recursos de R$ 229,3 milhões para o custeio da Etapa I do Plano de Ação da Rede Cegonha do Estado do Ceará. Os recursos serão utilizados para o custeio de 27 Centros de Parto Normal; 22 Casas da Gestante, Bebê e Puérpera; criação de 263 leitos de Gestação de Alto Risco; 70 leitos de UTI Adulto tipo II; 176 leitos de UTI Neonatal tipo II; 321 leitos de UCI Neonatal e 135 leitos de UCI Canguru. Também serão qualificados 203 leitos de Gestação de Alto Risco; 96 leitos de UTI adulto tipo II; 117 leitos de UTI Neonatal tipo II e 156 leitos de UCI Neonatal. Esses serviços estão previstos nos Planos de Ação da Rede Cegonha para as Regiões de Saúde do Ceará, aprovados por deliberação da Comissão Intergestores Bipartite (CIB), dia 3 de fevereiro deste ano.
“A Rede Cegonha vem para ajudar a reduzir a mortalidade materna no Estado”, destacou o secretário Arruda Bastos durante a reunião do Fórum Estadual. No Ceará, a Razão de Mortalidade Materna tem se mantido estável desde 2006, em torno dos 70 óbitos de mães por 100 mil bebês nascidos vivos. Em anos anteriores, a taxa foi de 93,7 em 1998, 88,5 em 2005, 78,4 em 2010 e 70,9 em 2011. Mais da metade das mulheres que morrem no parto é em conseqüência da Doença Hipertensiva Específica da Gravidez (DHEG), ou pré-eclâmpsia. Outras causas importantes são a hemorragia antes e pós-parto, aborto e infecção puerperal. Por seu lado, a Taxa de Mortalidade Infantil (TMI) no Ceará apresenta comportamento descendente e caiu de 32 óbitos por mil nascidos vivos em 1997 para 13,7 em 2011.