Cuidados Paliativos: especialidade avança em hospitais do Ceará e traz novo olhar para a qualidade de vida de pacientes

11 de outubro de 2023 - 09:25 # # # # # #

Assessoria de Comunicação do Hospital de Messejana, Casa de Cuidados e Helv
Texto e fotos: Jessica Fortes, Márcia Catunda e Isabelle Azevedo

 Maria Dolores Silva, de 74 anos, foi diagnosticada há um ano com câncer de pulmão. Acompanhada pelo Ambulatório de Cuidados Paliativos do HM, ela celebra, ao lado da filha, os dias sem dores (Foto: Jessica Fortes)

Paliar significa aliviar, proteger. Quem está protegido, sente-se amparado e acolhido. Foi assim que a enfermeira e cuidadora Gerliane César, de 39 anos, sentiu-se, ao ser recebida no Ambulatório de Cuidados Paliativos do Hospital de Messejana Dr. Carlos Alberto Studart Gomes, unidade da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa). “Saiu a Gerliane, enfermeira profissional e entrou a filha, cuidadora da mãe que foi diagnosticada com um câncer de pulmão. Não foi só a minha mãe que recebeu suporte, toda a família foi abraçada”, relembra.

Apesar da angústia e das dúvidas que surgiram junto com o diagnóstico, Gerliane conta que, após as conversas com a equipe, muitas crenças foram desmistificadas e deram espaço para novas possibilidades, sempre focadas na qualidade de vida da mãe, Maria Dolores Silva, de 76 anos.

Foram momentos difíceis, ainda são, mas aprendemos a viver um dia de cada vez. Não foi fácil saber que não existia proposta curativa para a minha mãe. A cirurgia de retirada do nódulo foi contraindicada após ela ter um Acidente Vascular Cerebral (AVC). Apesar disso, ela continuou fazendo as quimioterapias, tomando as medicações para aliviar os sintomas físicos e até acupuntura ela fez para aliviar as dores. Tudo o que pode ser feito, está sendo feito. Minha mãe tem qualidade de vida e hoje se sente melhor”, relata Gerliane.

A equipe multiprofissional do HM inclui médicos, psicólogos, assistente social, farmacêutico, nutricionista, enfermeiros e técnicos de enfermagem focados em atender as demandas dos pacientes e seus familiares (Foto: Jessica Fortes)

Conforto e qualidade de vida

O Cuidado Paliativo é um conjunto de práticas que têm por objetivo proteger as pessoas do sofrimento trazido por doenças críticas e crônicas que ameaçam a vida. No Hospital de Messejana, a equipe multiprofissional inclui médicos, psicólogos, assistente social, farmacêutico, nutricionista, enfermeiros e técnicos de enfermagem focados em proporcionar conforto, alívio da dor, entre outros sintomas físicos, apoio emocional, social e espiritual, ao paciente e à família.

Acionados pela equipe assistencial diante de doenças como câncer, doenças pulmonares crônicas e cardíacas críticas, ao contrário do que muitos pensam, o cuidado paliativo não é sinônimo de suspensão de tratamentos.

Não significa desistir. Muito pelo contrário, nossa busca é pela qualidade de vida, pelo conforto do paciente. Queremos ajudar ele a viver bem, por isso a avaliação precoce durante a internação e o acompanhamento ambulatorial de uma equipe de cuidados paliativos, logo que uma doença potencialmente mortal é diagnosticada, é fundamental”, esclarece a pneumologista e paliativista do HM, Rosinele Leopoldino.

Ela reforça: “Muitas vezes, uma poltrona mais confortável, que damos para um idoso assistir uma televisão, uma barra que colocamos para auxiliar no equilíbrio e deslocamento, a comida preferida, uma terapia alternativa como acupuntura ou musicoterapia, são exemplos de cuidados paliativos. É proporcionar qualidade de vida e conforto em momentos em que não necessariamente um remédio vai curar ou vai resolver o problema. Quando as pessoas entendem isso, nós desmistificamos que cuidados paliativos é parar de fazer, parar de tratar”, complementa.

O Ambulatório de Cuidados Paliativos do HM oferta sessões de acupuntura no manejo da dor de pacientes com doenças oncológicas (Foto: Jessica Fortes)

Iniciativas positivas

Embora ainda haja desafios a serem superados, os avanços e iniciativas positivas estão sinalizando um futuro mais promissor para o acesso a esses serviços. Garantir que os cuidados paliativos sejam uma parte integral e acessível do sistema de saúde é uma missão que não apenas melhora a vida dos pacientes, mas também reflete uma sociedade comprometida com o cuidado e a dignidade de seus cidadãos em momentos de maior vulnerabilidade.

Equipamentos da Sesa já investem nessa ação conjunta, lançando um novo olhar para o paciente e sua família.

Casa de Cuidados do Ceará oferece “Hospice Care”

A Casa de Cuidados do Ceará (CCC) é uma das instituições que investem em cuidados paliativos na Rede Sesa. Inaugurada em 2021, é uma Unidade de Transição de Cuidados com foco na Reabilitação e Cuidados Paliativos. Os pacientes são encaminhados dos hospitais ou UPAs quando eles não necessitam mais da assistência hospitalar, mas de uma assistência com cuidados complexos da equipe multidisciplinar, visando a recuperação ou controle de sintomas. Muitas vezes esses pacientes se encontram com doenças avançadas e no fim da vida.

A Casa de Cuidados é atualmente a única instituição pública no Ceará que oferece a modalidade de Cuidados Paliativos conhecida como “Hospice Care” (Foto: Márcia Catunda)

O objetivo da CCC é alcançar uma melhoria e estabilidade do quadro clínico dos pacientes com treinamento dos cuidadores familiares para transição segura para o domicílio, mas muitas vezes os pacientes necessitam do apoio da equipe com cuidados especializados até a morte. Toda a equipe da CCC é treinada para dar apoio ao paciente e aos familiares com a visão humanizada.

A Casa de Cuidados é atualmente a única instituição pública no Ceará que oferece essa modalidade dos Cuidados Paliativos com acolhimento multidisciplinar, conhecido como “Hospice Care”. Os pacientes possuem assistência de profissionais das áreas de Enfermagem, Fisioterapia, Terapia Ocupacional, Assistência Social, Fonoaudiologia, Nutrição e Psicologia, além de visitas médicas, com a adoção de todos os cuidados necessários na transição entre a estrutura hospitalar e o domicílio do paciente.

De acordo com a diretora da CCC, Ursula Wille Campos, os cuidados paliativos aliviam o sofrimento dos pacientes, permitindo maior apoio de familiares e promovendo mais qualidade de vida.

Os cuidados paliativos permitem o acolhimento da família e promovem um atendimento humanizado. O paciente lotado na CCC recebe apoio de psicólogos, assistentes sociais, enfermeiros e médicos, cada um atuando na sua área com o mesmo objetivo: promover um atendimento de qualidade”, esclarece Wille.

Helv

Zenaide de Sousa de Oliveira, 44, prepara-se para enfrentar a futura ausência do tio de 91 anos. Sem condições de passar por intervenções cirúrgicas e sem responder às terapias capazes de melhorar ou controlar a doença, o idoso estava sendo assistido pela equipe de Cuidados Paliativos do Hospital Estadual Leonardo Da Vinci (Helv), unidade da Rede Sesa, em Fortaleza.

A equipe do Helv é composta por dois médicos e uma enfermeira, com suporte multidisciplinar das áreas da psicologia, fisioterapia, fonoaudiologia e do serviço social (Foto: Isabelle Azevedo)

O serviço de cuidados paliativos foi implantado há dois meses no hospital. A partir de interconsultas, os pacientes são avaliados e recebem o parecer para serem acompanhados pela equipe paliativa. O médico Bruno Lobo explica que a abordagem paliativa está alinhada à terapia modificadora de doença.

Chega o momento em que realmente percebemos que as terapias modificadoras não têm um papel tão importante. Naquele momento, são os cuidados paliativos que acabam sendo a forma dominante de cuidar daquele paciente. Um cuidado que é estendido também para as famílias”, explica

Zenaide afirma que a equipe foi bem realista. “Eles passaram para a família que era necessário dar o melhor conforto para o paciente. Meu tio foi bem assistido. Eu passei mais dias com ele, eu só tenho a dizer que a equipe e o hospital estão de parabéns”, afirma a acompanhante hospitalar.

Inicialmente a equipe é composta por dois médicos e uma enfermeira, possuindo o suporte multidisciplinar das áreas da Psicologia, Fisioterapia, Fonoaudiologia e do Serviço Social.

Entendemos que é uma área de atuação médica, mas também multiprofissional, envolvendo todos os cuidados com aqueles pacientes que têm o diagnóstico de uma doença potencialmente ameaçadora. Tentamos amenizar os sintomas físicos, mas também emocionais, psicológicos, espirituais e sociais desses pacientes”, pontua o médico Bruno Lobo.

A diretora de gestão do cuidado, Kessy Aquino, avalia que, apesar do pouco tempo, a equipe de cuidados paliativos já vem colhendo bons resultados, sendo evidenciado através de avaliações das equipes e dos familiares.

É um cuidado personalizado, um cuidado que busca aliviar e personalizar as necessidades do paciente e dos familiares naquele momento. Eles realizam um processo de melhoria contínua, um processo de educação, dando todo suporte de conhecimento e entendimento a equipe que está lidando com aquela situação, com aquele momento do paciente”, explica.

Desafios

A equipe de cuidados paliativos tem o desafio de levar cada vez mais a abordagem paliativa para outros profissionais da saúde. A médica Ingrid Barros explica que a adoção dos cuidados paliativos passa por uma mudança no pensamento, construído em décadas, de que o cuidado em saúde está centrado na doença.

A medicina, como foi construída no passado, foi muito focada no tratamento de doenças, no pensamento de que eu preciso cuidar e se aquele paciente morrer, eu como profissional fui derrotado e fracassei. Muitas vezes, quando a gente fala em abordagem paliativa, existe o pensamento que você está desistindo dessa pessoa. Mas o cuidado paliativo é exatamente o contrário de desistir, a gente assume a responsabilidade de cuidar daquela pessoa até o fim”, explica a médica.