Mães e filhos fortalecem o laço de amor cumprindo a missão de salvar vidas

8 de maio de 2021 - 07:30 # # #

Assessoria de Comunicação da Casa Civil
Texto:
Larissa Falcão
Fotos: Thiara Montefusco, Nivia Uchoa e Teresa Fernandes


Mães e filhos relatam os laços afetivos em meio à pandemia da Covid-19

Multiplicar-se para sentir e proteger cada partícula que compõe uma nova vida. É o que acontece às mulheres nas descobertas do maternar. Em homenagem a elas, o Governo do Ceará, por meio da Secretaria da Saúde do Estado (Sesa), compartilha as histórias de mães e filhos que atuam juntos na rede estadual de saúde e, diariamente, fortalecem o laço de amor enquanto oferecem acolhimento e salvam vidas, principalmente no enfrentamento à pandemia da Covid-19.

Saúde: bendizer e herança materna


Maria Saúde, de 45 anos, carrega no nome a missão de ajudar a salvar vidas

Mães têm poderes. Dentre eles está o de nomear os filhos com o intuito de destacá-los e protegê-los. A mãe da técnica de enfermagem Maria Saúde Machado Estevam, de 45 anos, moradora de Sobral, sabia disso ao registrar a filha. “Minha mãe é Saúde também. É a promessa que ela tem com Nossa Senhora da Saúde”, explica. Ao crescer, Saúde decidiu transformar o nome em vocação. “Desde pequena eu dizia que ia trabalhar de branco, mas eu não sabia como, né? Aí, quando eu comecei a crescer, foi que vi que a minha avó era parteira, fazia parte. Era o instinto que eu tinha de vestir branco”, brinca.

Com o exemplo da avó e a proteção da mãe, ela conseguiu iniciar e concluir o curso técnico de enfermagem. Saúde conta que foi uma batalha para criar os dois filhos e estudar para realizar o sonho de vestir branco, como ela mesma gosta de dizer. “É uma batalha dura, mas, quando a gente tem o sonho de procurar fazer o melhor para os filhos, a gente enfrenta”. Tudo só foi possível porque ela contou com a ajuda da mãe. “A minha mãe ficava com eles para eu ir trabalhar”.

Hoje, Saúde soma quase 30 anos atuando para cuidar de outras pessoas, sejam elas crianças, adultos ou idosos. Experiência que é reconhecida pelos profissionais e pacientes do Hospital Regional Norte (HRN), da Rede Sesa, onde trabalha há mais de sete anos. A técnica de enfermagem sente tanto orgulho da própria trajetória que se empenhou para que a filha Lays Machado Estevam, de 26 anos, escolhesse a mesma profissão. “Eu fiz o meu curso de técnica de enfermagem junto com o Ensino Médio na Escola Estadual de Educação Profissional Dom Walfrido Teixeira Vieira. Ela que me inscreveu, me ajudou muito com isso. Ela me apoiou em todos os momentos. Fez uma formatura para mim quando eu finalizei o técnico”, relembra Lays, que hoje trabalha na Clínica Covid-19 do HRN.

Saúde e Lays relatam a alegria de poderem trabalhar no mesmo local e sempre trocar experiências e compartilhar as conquistas do dia a dia. Contudo, a pandemia da Covid-19 provocou muitas mudanças na rotina das profissionais, mas o desafio também trouxe mais admiração para a relação entre mãe e filha. “Eu resumo minha mãe como a minha fortaleza, minha riqueza. Tudo na minha vida é ela. Eu digo que eu sou o que sou hoje por ela. Estou nesta profissão através da influência dela. E eu sou a profissional que sou hoje com todo o apoio dela. Ela teve grandes influências nas minhas escolhas. Se eu errei, se eu fraquejei, se eu chorei, ela estava lá”, afirma Lays.


Mãe e filha, Maria Saúde e Lays Machado trabalham juntas no Hospital Regional Norte

A disciplina do amar e cuidar

A vontade de vestir o jaleco também surgiu na vida da enfermeira Francisca Maria da Conceição, de 52 anos, ainda quando criança, numa das vezes em que a mãe a levou para tomar vacina. Para realizar o sonho de infância, Conceição saiu de Teresina, no Piauí, para estudar no Ceará. “A minha vontade era essa de estudar, de ser da área da saúde”, conta.

Em Fortaleza, a piauiense concluiu o Ensino Médio, iniciou um curso de auxiliar de enfermagem e casou. Com a vida pessoal e profissional em andamento, Conceição decidiu, em 2001, que era o momento certo para se tornar mãe. Ela rememora como foi conciliar a gestação do primeiro filho e o trabalho. “Não sou muito grande, né, e a barriga apareceu logo. Eu era magrinha, bem magrinha. Eu tinha um barrigão. As meninas diziam: ‘a Conceição não pode pegar por causa do menino’. Eu dizia ‘não’. Botei força até o dia do neném nascer”.


No HGWA, Maria da Conceição faz parte da equipe de atendimento de pacientes gravemente afetados pela Covid-19

Depois que os dois filhos cresceram, ela conseguiu realizar o sonho de se graduar em Enfermagem e, atualmente, cursa duas pós-graduações. Seu primogênito, Henrique Gabriel Santos, de 19 anos, afirma que a determinação dela é inspiração para ele. “Ela é um espelho para mim. É a pessoa que eu quero ser como profissional. É bastante bonito”.

Hoje, Conceição faz parte da equipe de profissionais que atuam na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Geral Dr. Waldemar Alcântara (HGWA), em Fortaleza, dedicando-se ao atendimento de pacientes gravemente afetados pela Covid-19. A enfermeira destaca que tem como característica pessoal e profissional ser bastante dedicada aos objetivos, mas sem perder de vista o que lhe faz bem. “Eu sempre fui aquela de querer chegar na frente, de querer fazer. Eu nunca deixei de estudar. Sempre tive dois ou três empregos. E eu chegava em casa ia para praia, cinema, teatro. Eu faço as coisas com amor, eu gosto do que faço”.

Henrique decidiu seguir os passos da mãe e, após concluir o curso técnico de enfermagem da EEEP José de Barcelos em 2020, teve a oportunidade de começar a carreira no mesmo hospital onde ela trabalha. “É bastante gratificante por estar ajudando as pessoas, porque muitos dos pacientes não possuem seus familiares. Eles são isolados. Então, a gente trabalha como técnico de enfermagem, amigo, psicólogo, familiar”, relata o profissional que, apesar de muito jovem, enfrenta o ritmo de uma unidade de saúde referência no acolhimento aos cearenses, e estuda para se tornar médico.


Henrique Gabriel Santos seguiu os passos da mãe, Maria Conceição, e ambos trabalham na equipe de Enfermagem do HGWA

O sonho do filho traz felicidade para o coração da Conceição, que ultimamente vem palpitando preocupado por causa da pandemia. “Você tem que cuidar de você para poder cuidar de alguém. O amor é isso, é você estar bem para poder oferecer o bem a alguém. Eu digo a ele para se alimentar bem. Não deixe de se alimentar, durma”. Desde o ano passado, conselhos e protocolos sanitários foram intensificados para que o lar permaneça seguro para todos.

Tempo para o afeto

Lays e Henrique conhecem os desafios diários que suas respectivas mães enfrentaram antes de chegar em casa para abraçá-los. Para os dois filhos da enfermeira intensivista Wianna Basílio, de 37 anos, ainda não é possível compreender, com clareza, por que o tempo ao lado da mãe ficou tão curto desde o ano passado. Mas as crianças já entendem que a mãe cumpre uma missão muito importante, que lembra as heroínas das histórias que eles escutam.


Wianna Basílio sente saudade dos dois filhos diariamente; enfermeira intensivista, ela está à frente da Unidade de Terapia Intensiva e da Clínica Covid do Hospital Regional do Cariri 

Wianna confessa que dividir o tempo do afeto e cuidado entre casa e trabalho durante a pandemia não tem sido fácil, mas é preciso seguir firme para estar à frente da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e da Clínica Covid do Hospital Regional do Cariri (HRC), em Juazeiro do Norte. “Eu tenho que deixar os meus filhos em casa para ser mãe da minha equipe, dos meus pacientes, dos meus setores, tentando, neste momento, cumprir a missão que me foi ordenada por Deus e pelo mundo. Não podemos fugir disso. Eu sou mãe apenas sábado e domingo, e meus filhos ficam com a equipe de apoio”.

A rede de apoio tem sido muito importante para Wianna dar continuidade ao trabalho, mas o desejo de acompanhar o desenvolvimento das crianças comove o coração de mãe. “Eu sinto falta de ensinar as tarefinhas deles de casa. Eu não consigo. E, às vezes, eu fico assim, porque as pessoas vêm me dizer que ele fez o nome dele sozinho, e não foi eu quem ensinei, foram outras pessoas que ensinaram ele a escrever. E eu não participei desse momento”, conta.

Wianna acredita que tudo vai melhorar. Enquanto isso, ela mantém a força, determinação e paciência para atravessar esse momento desafiador, ansiando ter mais tempo para dedicar afeto e cuidado aos filhos. “Quando eu chego em casa ele diz: ‘Mamãe, chegou do hospital do coronavírus?’. Aí eu digo: ‘Foi, meu amor, mamãe vai tomar banho, vai ficar’. Aí eles vão vendo, crescendo com essa imagem que a gente vai falando, passando para eles, para que no futuro próximo se tornem pessoas boas, de boa índole, com muita força. Que possam continuar neste mundo de Deus com muita honestidade e sendo bom ser humano”, deseja.