Cientista Chefe leva a ciência para gestão pública

27 de novembro de 2019 - 17:23 # # # # #

Assessoria de Comunicação da Funcap
Repórteres:
Silvio Mauro e Beatrice Borges
Fotos: Marcos Studart

Programa da Funcap une o ambiente acadêmico à área operacional do Governo do Ceará com o objetivo de inovar os serviços ofertados para a população

Em países desenvolvidos como Estados Unidos, Inglaterra, Israel e Austrália, onde já está consolidado o conceito da importância da ciência para decisões estratégicas de governo, existe uma função chamada Chief Scientist (Cientista Chefe). Guardadas algumas particularidades de cada nação, trata-se de um expediente pelo qual os pesquisadores auxiliam os gestores públicos com consultoria de alto nível para provê-los de dados e conhecimento que servirão como subsídios em tomadas de decisões.

Foi com base nessas experiências exitosas que a Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Funcap) iniciou, em 2018, o programa Cientista Chefe no Ceará. De forma similar ao que acontece em um escopo maior nos países desenvolvidos, pesquisadores com larga experiência, reconhecimento internacional em suas áreas e nível 1A do CNPq (maior gradação possível no ambiente acadêmico brasileiro) foram alocados em áreas consideradas estratégicas da administração estadual: segurança pública, saúde, educação, análise de dados, recursos hídricos, pesca e aquicultura e energias renováveis.

De acordo com o presidente da Funcap, professor Tarcisio Pequeno, através do programa os pesquisadores podem colocar o conhecimento à disposição dos órgãos públicos, para que sejam encontradas soluções para os desafios relacionados às ações do Governo do Ceará. “O Cientista Chefe é um instrumento que se baseia na inovação, mas trabalhando esse conceito além do âmbito empresarial e o levando para a ciência”, explica ele.

Após a definição dessas áreas prioritárias, foi feita a distribuição de recursos de acordo com os projetos e subprojetos especificados para cada equipe. Entre março e dezembro do ano passado, o Cientista Chefe recebeu aproximadamente R$ 8,6 milhões em investimentos vindos da Funcap e dos órgãos da administração estadual que estão participando dos projetos. Em 2019, a expectativa é de aplicação de quase R$ 10 milhões.

Soluções e benefícios

Embora seja muito associada a dispositivos eletrônicos e a tecnologias, a inovação é um tema amplo e que pode envolver, por exemplo, modernização de processos e busca de soluções que sejam mais simples e de menor custo do que as usualmente empregadas nas ações governamentais. Dessa forma, o programa pretende, em médio prazo, propor mudanças que possam resultar em benefícios como redução de gastos e melhoria dos serviços prestados à população cearense.

A principal linha de pesquisa de todos os projetos é o levantamento e a análise de informações através das técnicas de Big Data, conceito computacional que está relacionado com o processamento de grandes e diversificados volumes de dados, no menor tempo possível, para permitir que a partir deles sejam obtidos resultados e soluções no mundo real.

Aplicando para a gestão estadual, em cada secretaria beneficiada os pesquisadores estão fazendo a coleta de dados como os usuários dos serviços prestados pelos órgãos, a distribuição geográfica dos atendimentos e os recursos, instalações físicas e equipamento disponíveis. Com isso, será possível, através de metodologias científicas, otimizar o aproveitamento de tudo o que Estado tem disponível hoje.

Além disso, o projeto tem uma vertente estratégica, que irá, a partir da análise do quadro atual, fazer projeções de crescimento de demanda pelos serviços e orientar o governo no planejamento e no investimento das futuras ações.

Segurança Pública

Exemplo de trabalho dos Cientistas Chefes está na área da segurança pública, onde 50 pesquisadores estão atuando. O projeto tem como principal objetivo realizar estudos científicos para aplicar soluções tecnológicas de identificação humana (civil e criminal) e veicular. Dentre os principais resultados está uma plataforma Big Data para integração de dados, um ambiente onde materiais como vídeos, áudios, imagens e dados de redes sociais são analisados em tempo real.

Para os policiais que estão no patrulhamento diário, foi criado um aplicativo no qual uma base de dados é baixada para smartphones e fica disponível off line. Através dessa base, cada policial pode analisar a situação de suspeitos apreendidos.

As iniciativas têm relação direta com os resultados positivos obtidos pela SSPDS, como redução no número de homicídios, roubos de veículos e assaltos. Além disso, os sistemas de inteligência têm ajudado a rastrear as atividades do primeiro e do segundo escalões do crime organizado – que hoje representam um dos maiores desafios para a área de segurança do Brasil.

Saúde


Na área da saúde, uma das atividades do projeto é a transformação do bairro Porangabussu em um distrito de inovação tecnológica (ambiente de incubação para empresas e startups focadas em saúde). A região do distrito, onde o Hospital Universitário Walter Cantídio está localizado, abrange cinco bairros onde vivem cerca de 23 mil pessoas. A proposta do projeto é que antes das ações serem aplicadas em todo o Ceará, elas possam ser avaliadas nesta área.

Outra ação é a implementação do IntegraSUS, ferramenta que integra sistemas de monitoramento e gerenciamento epidemiológico, hospitalar, ambulatorial, administrativo, financeiro e de planejamento da Secretaria da Saúde do Estado (Sesa) e dos 184 municípios. Esses dados são reunidos, analisados e disponibilizados para conhecimento da população e para auxiliar gestores em ações e políticas de saúde.

Na Sesa, a equipe de cientistas chefes é liderada pelo pesquisador José Xavier Neto. “O Cientista Chefe é um programa genial e que traz um benefício tanto para administração como para academia. Especialmente na saúde, a população pode esperar uma efetividade muito maior na alocação dos recursos direcionados a suas necessidades e uma eficiência muito maior nos gastos da Saúde, e com o objetivo de melhorar a saúde geral da população”, comenta o pesquisador.

Pesca e aquicultura

Com 18 pesquisadores e técnicos, a equipe do cientista chefe Raul Izquierdo atende a demandas da Secretaria do Desenvolvimento Econômico e Trabalho (Sedet). Entre os principais resultados esperados estão o incremento na produção de lagostas inteiras vivas, o projeto e a construção de um barco para pesca e armazenamento de lagostas inteiras vivas, formação de pescadores profissionais (com obtenção da Carteira Marítima), rastreamento de barcos e monitoramento da pesca de atum e criação de pacotes biotecnológicos para melhoria do cultivo de camarão e de tilápia. O cientista explica que, especialmente com relação a lagosta, é preciso ações urgentes para evitar o colapso da pesca. “Também estamos fazendo pesquisas para determinar a composição e outras características biológicas por espécie. Tudo para alcançar um plano de ordenamento e manejo sustentável”, explica.

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